A felicidade tarda
Devo eu, com 60 anos, esperar mais 5 anos para atingir a felicidade dos 65, entusiasmado pela promessa desse êxtase durar até aos 79?
O Guardian guarda as notícias mais inúteis para a edição de Domingo.
Propagueando um cientista comportamental (haverá três palavras menos aliciantes?) avisa-nos que, segundo um tal Paul Dolan, as pessoas são mais tristes entre os 50 e 54 anos e que a felicidade só regressa quando se chega ao período (dourado?) entre os 65 e os 79 anos.
Entre os 55 e os 64 será o inferno. Mas há uma luz ao fundo da fornalha: as cinzas do crematório. Espera até morreres e, de repente, tudo parecerá melhor. Melhor ainda do que a vida, se calhar. E calhará.
Dolan, autor do “bestselling Happiness By Design”, aconselha os desgraçados com 50 ou 60 e poucos anos, caso queiram evitar a depressão, o suicídio e a compra de livros como Happiness By Design, a “ouvirmos música, sairmos fora de portas, encontrarmo-nos com amigos e pessoas desconhecidas. Se todos fizéssemos isso todos os dias seríamos muito mais felizes”.
Deus, que nos visita com tantas misérias, que nos livre – ao menos uma vez na vida – destes felicitistas, mercadores de felicidades que nem sequer funcionam com os estúpidos que acreditam neles e que compram as banalidades gratuitas que vendem.
Devo eu então, com 60 anos, esperar mais 5 anos para atingir a felicidade dos 65, entusiasmado pela promessa desse êxtase durar até aos 79?
Claro que sim. Que posso eu perder, excepto a inocência idiota de pensar na felicidade sem pensar em números ou em tempos de vida?
Tudo o que constitui a nossa vida.