Os candidatos

Ana Gomes

A socialista que não tem o apoio oficial do PS entrou numa corrida presidencial que é uma espécie de matrioska: tem várias “eleições” encaixadas. No que lhe diz respeito, tem como grande e difícil objectivo contribuir para que Marcelo Rebelo de Sousa não obtenha mais de 50% dos votos, forçando uma segunda volta, sendo ela a segunda mais votada. André Ventura é o seu principal inimigo. O segundo objectivo de Ana Gomes é ficar à frente do homem que acusa de querer “destruir a democracia”. Mas a diplomata também trava uma corrida à esquerda, em que entram João Ferreira e Marisa Matias.
A eleição de Ana Gomes é ainda tudo menos indiferente para o PS. A candidata não tem qualquer ambição de poder no partido, mas um bom resultado dar-lhe-ia um peso muito maior do que o que hoje tem e isso poderia até ser importante numa futura disputa interna.

Idade
66
Profissão
Licenciada em Direito, diplomata e antiga eurodeputada
Filiação Partidária
MRPP (até 1975) e PS
Orçamento
53.500 euro
Mandatário Nacional
Isabel Soares (directora do Colégio Moderno)
Apoios
Independente com o apoio do PAN, do Livre e socialistas como Pedro Nuno Santos, Duarte Cordeiro, Manuel Alegre ou João Cravinho
Naturalidade
Lisboa
Assinaturas recolhidas
8300

André Ventura

O deputado único e líder do Chega foi o primeiro a apresentar-se na corrida para Belém, logo em Março. Os seus dois grandes objectivos são forçar Marcelo Rebelo de Sousa a uma segunda volta.
Os dois grandes objectivos de André Ventura são forçar Marcelo Rebelo de Sousa a uma segunda volta e ficar à frente de Ana Gomes. Mas estas eleições servem também para o líder do Chega medir o seu impacto e o do partido no eleitorado, depois dos 1,29% (67.826 votos) nas legislativas — e depois de ter sido a solução para o PSD subir ao poder nos Açores. As sondagens têm-no posto em terceiro lugar, mas a mais recente, da TVI, mostra-o empatado com Ana Gomes.
Tentou, sem sucesso, suspender o mandato e fazer-se substituir para poder fazer campanha eleitoral. O seu discurso populista, com traços de xenofobia e racismo, tem levado os adversários a encostá-lo à extrema-direita.

Idade
37
Profissão
Licenciado e doutorado em Direito Deputado e inspector tributário em licença sem vencimento
Filiação Partidária
Chega (desde 2019); PSD (até 2018)
Orçamento
160 mil euros
Mandatário Nacional
Rui Paulo Sousa (ex-dirigente da Aliança em Santarém)
Apoios
Chega
Naturalidade
Sintra (Mem-Martins)
Assinaturas recolhidas
10.250

João Ferreira

Apontado nos últimos anos como um dos mais fortes sucessores de Jerónimo de Sousa como líder do PCP, Ferreira joga nesta campanha mais do que uma simples corrida a Belém. Além de mostrar que tem potencial para voltar a congregar o eleitorado comunista depois do resultado frágil de Edgar Silva há cinco anos — o mais baixo de sempre para o PCP —, Ferreira tem de tentar agarrar algum eleitorado do PS zangado com Ana Gomes e desiludido com Marcelo, e também aquele que esteja propenso a agradecer aos comunistas por terem ajudado a aprovar o Orçamento. Em termos numéricos, o seu desafio é ficar à frente de Marisa Matias e conseguir mais do que os 183 mil votos (3,95%) de Edgar.

Idade
42
Profissão
Licenciado em Biologia, Eurodeputado da CDU, consultor na área do ambiente
Filiação Partidária
PCP
Orçamento
450 mil euros
Mandatário Nacional
Heloísa Apolónia (PEV)
Apoios
PCP, PEV, uma lista de 170 ex-presos políticos, os deputados do PS Isabel Moreira e Ascenso Simões, entre gente das artes e do desporto e uma lista de 1200 mulheres.
Naturalidade
Lisboa
Assinaturas recolhidas
15.000

Marcelo Rebelo de Sousa

Tal como aconteceu há cinco anos, o candidato já estava na linha da frente das sondagens quando ainda nem sequer tinha oficializado a sua recandidatura — fê -lo, aliás, no último momento. Mais do que ser um alvo a abater, é o candidato que todos os outros querem empurrar para uma segunda volta. Mas há dois números que são os maiores adversários de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais: 70,35% e 53,48%. O primeiro é a percentagem com que Mário Soares foi reeleito em 1991, a maior de sempre em democracia. O segundo retrata o recorde de abstenção em presidenciais democráticas e aconteceu em 2011, quando Cavaco Silva foi reeleito Presidente da República.
O primeiro número inimigo já foi desconstruído pelo actual inquilino de Belém, na primeira entrevista como candidato, quando afirmou não ser “burro” e saber que superar a votação de Soares “é uma loucura”. Os argumentos para justificar uma eventual subida da abstenção são dois: a pandemia e a reeleição praticamente garantida, como mostram as sondagens, deverão afastar muita gente das urnas.

Idade
72
Profissão
Licenciado em Direito, Professor catedrático, jornalista e comentador político
Filiação Partidária
PSD
Orçamento
30.500 euros
Mandatário Nacional
Manuel Brito (já havia sido mandatário financeiro em 2016)
Apoios
Independente, mas com apoio oficial de PSD, CDS e de alguns socialistas (como Ferro Rodrigues, Augusto Santos Silva ou Fernando Medina). Numa carta aberta, 51 personalidades (incluindo Adalberto Campos Fernandes, Alexandre Valentim Lourenço, Germano de Sousa ou Ricardo Baptista Leite) também apelaram ao voto em Marcelo.
Naturalidade
Lisboa
Assinaturas recolhidas
12.747

Marisa Matias

Marisa Matias é repetente nesta eleição — à semelhança de Marcelo Rebelo de Sousa e de Vitorino Silva — e também concorre consigo própria e com a marca de 2016: ficou em terceiro com 10% dos votos. Desta vez, as sondagens dão-lhe menos percentagem e colocam-na a partir do quarto lugar, atrás de Ana Gomes e de André Ventura.
Um bom resultado para a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda seria reforçar a votação de há cinco anos e é por isso que concorre consigo própria, antes de mais. Tem planos para andar na rua, em todo o país, mas não prevê jantares, almoços, arruadas ou comícios tradicionais. Um bom resultado pode selar o seu futuro no Bloco.

Idade
44
Profissão
Curso de Sociologia, investigadora em Ciências Sociais, Eurodeputada desde 2009
Filiação Partidária
BE (desde 2004)
Orçamento
256.617 euros
Mandatário Nacional
Tiago Rodrigues (director do Teatro D. Maria II)
Apoios
BE e personalidades de várias áreas, tais como: Júlio Machado Vaz, Isabel do Carmo, Aranda da Silva, Ana Benavente, Alexandra Lucas Coelho, Cláudio Torres ou José Luís Peixoto.
Naturalidade
Coimbra
Assinaturas recolhidas
12.000

Tiago Mayan Gonçalves

É um novo rosto na política, lançado pela Iniciativa Liberal (IL), que quer cativar eleitorado descontente com o Presidente da República mas que também rejeita André Ventura. A missão de Tiago Mayan Gonçalves parece quase impossível para um candidato que era desconhecido até há dois meses, que enfrenta a popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa e o galope do líder do Chega nas sondagens.
Com 43 anos, advogado, o fundador da IL assume que a sua candidatura é uma alternativa “não socialista, não populista e não extremista”. E apresenta-se como “genuinamente liberal”. O espaço político está demarcado, mas o candidato da IL aparece no fundo da tabela das sondagens. Resta saber se Tiago Mayan Gonçalves consegue superar a votação (67 mil votos) conseguida pela IL nas legislativas de 2019 e que lhe permitiu eleger um deputado.

Idade
43
Profissão
Advogado
Filiação Partidária
Iniciativa Liberal
Orçamento
38.450 euros
Mandatário Nacional
Michel Seufert (ex-deputado do CDS)
Apoios
Iniciativa Liberal
Naturalidade
Porto
Assinaturas recolhidas
9000

Vitorino Silva

O calceteiro de Rans entrou na liga dos grandes, ao participar nos debates televisivos com todos os candidatos, e é dos poucos que pode não ter nada a perder. Nesta eleição, concorre para os primeiros lugares a contar do fim, mas gaba-se de ter tido mais votos nas presidenciais de 2016 (152 mil) do que o Chega ou a Iniciativa Liberal tiveram nas legislativas de 2019 (ambos superaram os 67 mil) — na realidade, comparando o mesmo acto eleitoral, o RIR, partido fundado por Vitorino Silva, teve apenas 35 mil votos nas legislativas. É a segunda vez que está na corrida e, tal como Marisa Matias, também tem o resultado de 2016 para superar (ou não).

Idade
49
Profissão
Calceteiro, antigo presidente da Junta de Freguesia de Rans (Penafiel)
Filiação Partidária
PS (até 2009), RIR (2019)
Orçamento
16 mil euros
Mandatário Nacional
Márcia Henriques
Apoios
RIR
Naturalidade
Rans (Penafiel)
Assinaturas recolhidas
9000
Editar

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