Os amigos do Norte
São os amigos mais amigos que os desconhecidos podem ser.
Estávamos em Altura a jantar bem na Chaminé quando um senhor se aproximou de nós para nos apresentar o pai e a mãe. Era uma família de connoisseurs gastronómicos. Convidaram-nos para um jantar em casa deles, cozinhado pelo filho.
Os amigos do Norte não se limitam a trocar segredos. Conversa-se com eles. Cada minuto com eles parece um ano. Ao fim de 15 minutos de conversa é como se nos conhecêssemos há 15 anos. A generosidade deles é mais do que verdadeira. Quando convidam, convidam mesmo. Tanto mais que podem magoar-se a até ofender-se se o convite não for aceite.
Os convites dos amigos do Norte nunca trazem água no bico. Não só não querem nada em troca como conseguem disfarçar todo o grande esforço que fazem para nos receber como se não lhes desse trabalho nenhum e despesa muito menos. Conseguem, não sei como, convencer-nos que é mesmo assim. Que é um prazer. E é um prazer, carago. São uma combinação raríssima: desconhecidos, generosos e sinceros.
Mandaram-nos almoçar uma bela caldeirada no Capelo onde outros amigos do Norte nos mandaram para uma praia lindíssima, onde uma rapariga deu saltos para reaver os nossos bilhetes roubados pelo vento. Agradecemos e o pai dela disse logo, com a mãe a sorrir ao lado: "Gente do Norte é assim..."
Pobres são aqueles sem amigos do Norte.