Presidenciais, Saúde e Star System

No apoio à mais importante figura política na história do SNS, mantenho a coerência do meu pensamento.

Desde os tempos da sua liderança no Serviço Nacional de Saúde (SNS) que Maria de Belém constitui um exemplo político notável do pensamento e diagnóstico dos problemas que o sistema enfrenta e na definição de soluções que, ainda hoje, continuam a ser indicadas como as corretas para garantirem a qualidade dos cuidados de saúde prestados, a segurança dos doentes e a sustentabilidade do sistema. No apoio à mais importante figura política na história do SNS, mantenho a coerência do meu pensamento e não vou atraiçoar a memória das boas ações políticas pelo oportunismo gerado por outros candidatos a Presidente da República. A longa experiência política de Maria de Belém, não gera dúvidas sobre as suas posições Futuras e permite uma decisão informada para todos os eleitores que escolherão livremente.

Sobre Marcelo, na sua relação com as políticas de saúde, fiquei sempre muito chocado com a alegada constatação de que o comentador ouvia o anterior ministro da saúde antes de comentar sobre o tema. Um comportamento que demonstra uma profunda falta de independência e gera a suspeita de apoio a um processo de destruição do SNS ocorrido entre 2011-15. O grande entertainer Marcelo, nos comentários sobre políticas da saúde, sempre esteve ao nível de qualquer outro medíocre comentador de futebol o que me leva a suspeitar que estaria ao mesmo nível em temas que eu não ouso comentar, por desconhecer. Este é o homem que fez carreira política em processos de manipulação da opinião pública e produções encenadas de entretenimento semanal. As suas acções de aproximação artificial ao Portugal profundo, mais agudas na sua campanha de low cost, reforçará a percepção de um falso distanciamento do circuito do Poder e uma sensação de que Marcelo tem algo a esconder sobre essas relações?

Como julgará o nosso povo este exemplo único de comentador entertainer que poderá, um dia, ser objecto de estudo para teses de mestrado em temáticas de propaganda política e o star system conforme desenvolvido por Edgar Morin? Marcelo é mito e sedução na TV e surpreende que tenha resistido a produzir um grande documentário sobre si próprio, como fez Cristiano Ronaldo. Marcelo foi, ao longo dos anos, um intermediário entre o real e o imaginário. Entre os círculos do Poder e o Povo. O culto da sua personalidade, com contornos doentios, criou uma força de influência que, sendo legitimada pelo poder da comunicação social, que se guerreou pelas audiências geradas pelo grande “artista” da retórica popular, gerou um produto popular nacional que, tristemente, perdeu a noção do vazio que representa e não resistiu a levar-se a si próprio a sério ao candidatar-se à Presidência da República (PR). Porém, conforme nos alerta Morin, o sistema binário de estrelato mediático, de que sempre dependeu a gestão do mito Marcelo, exige que ao elegermos este personagem para a PR surja a necessidade de garantir que outra estela, como por exemplo Judite de Sousa, também o acompanhe nesse papel de manter o mito vivo. A menos que, para Marcelo, ir para a PR signifique a reforma, o que não significa esta importante função política. Por outras palavras, a eventual vitória de Marcelo significa a vitória da Anti-Política e despolitização das políticas públicas. Este é um personagem que não assume posição política nenhuma porque quer apenas transferir o Poder que lhe foi atribuído pelo star system para conquistar o Poder político sem o risco de perder o apoio popular atribuído à figura mítica. Trata-se de uma mistura perigosa para uma posição central da defesa da democracia.

Sampaio da Nóvoa, que também não resistiu a usar o dramático recente caso do hospital São José para, de forma vazia e oportunista, tentar projectar a sua preocupação humanista, sendo um potencial novo personagem para o star system, e até é mais atraente para as audiências femininas que Marcelo, gera dúvidas sobre o seu conteúdo político por ser excessivamente recente. Que se proteja a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

Editor Cientifico de Políticas e Gestão de Saúde

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