PCP: Jerónimo de Sousa eleito secretário-geral

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Os números que conduziram à eleição de Jerónimo de Sousa serão conhecidos cerca das 09h30 de hoje Tiago Petinga/Lusa

A reunião iniciou-se cerca das 23h00 de ontem e terminou às 02h00.

No final do encontro a eleição de Jerónimo de Sousa foi anunciada pelo gabinete de imprensa do partido.

Tanto o novo secretário-geral do PCP como o seu antecessor, Carlos Carvalhas, evitaram o contacto com os jornalistas, saindo por uma porta lateral do Complexo Municipal dos Desportos de Almada, onde decorre o XVII Congresso do PCP.

Os números que conduziram à eleição de Jerónimo de Sousa serão conhecidos cerca das 09h30, no início dos trabalhos do último dia do congresso, que hoje termina.

"É tradição do PCP dar essa informação em primeira-mão aos militantes", justificou o dirigente comunista Vítor Dias em declarações aos jornalistas.´

Jerónimo de Sousa: o retrato do operário

Jerónimo de Sousa representa para os comunistas o retrato do operário, embora tenha passado mais anos no Parlamento do que na fábrica. Ao contrário de muitos comunistas da sua geração, Jerónimo de Sousa, 57 anos, não foi um funcionário na clandestinidade nem esteve preso.

Os seus primeiros contactos com o PCP surgiram na década de 60, no seio do movimento cultural associativo, mas só a 29 de Abril de 1974 aderiu ao PCP, subindo ao Comité Central em 1979.

Foi membro da comissão executiva nacional de 1990 a 1992, do Conselho Nacional e é membro da Comissão Política.

Jerónimo de Sousa foi eleito deputado à Assembleia Constituinte (1976) e nas eleições seguintes à Assembleia da República, onde esteve até 1992. Voltou ao Parlamento em 2002, nas últimas legislativas, eleito por Setúbal.

Nasceu a 13 de Abril de 1947 na chamada cintura industrial de Lisboa, em Pirescouxe, Santa Iria de Azóia, Loures. É casado e tem duas filhas.

Começou a trabalhar aos 14 anos como afinador de máquinas na MEC - Fábrica de Aparelhagem Industrial, em Santa Iria de Azóia e frequentou o 4º ano do curso industrial estudando à noite.

A sua experiência na fábrica marcou o rumo da sua carreira política, especializando-se na área do trabalho e mantendo até agora na comissão política do PCP a ligação à área sindical e às questões laborais.

Foi delegado sindical na MEC e em 1972 foi eleito pelos trabalhadores para integrar a lista unitária que, em 1973, ganhou a liderança do sindicato dos metalúrgicos de Lisboa. Foi novamente eleito para a direcção central do sindicato em 1992.

Apesar de ter passado mais anos como deputado à Assembleia da República do que na fábrica, figura nos ficheiros do PCP como "operário metalúrgico".

Durante 16 anos representou a figura do "deputado-operário", avesso ao fato e gravata, aos quais acabou por aderir nos últimos anos.

No primeiro dia do XVII Congresso do PCP foi o único membro da primeira fila de fato e gravata, impecável de azul-escuro.

Apesar de ter exercido o cargo de deputado durante muitos anos, foi a sua candidatura às eleições presidenciais de 1995 que lhe deu maior visibilidade fora do partido.

Foi nessa campanha eleitoral que mostrou os seus dotes de dançarino para as televisões, imagem que nunca mais o largou.

Jerónimo de Sousa não se incomoda com o facto e até gosta de contar essa história.

Benfiquista e fã dos Beatles, Jerónimo de Sousa integrou grupos culturais e de teatro amador até aos 27 anos.

Os camaradas que o admiram elogiam-lhe "a grande capacidade política" e de "comunicação" mas também "a afabilidade" e "sentido de humor".

Dizem que tem sempre uma história ou uma piada à mão para contar.

Jerónimo de Sousa "é o retrato fiel do operário e a pessoa que melhor representava no Parlamento a origem social do PCP", disse António Filipe, na altura em que este era candidato presidencial.

Ideologicamente, Jerónimo de Sousa é conotado com a ala "ortodoxa" do PCP, fiel à orientação marxista-leninista traçada pelo núcleo duro partido.

Ontem, ao discursar no Congresso, horas antes de ser consagrado como líder, Jerónimo de Sousa reiterou a identidade operária do PCP e aconselhou os críticos que pretendem "a descaracterização do partido" a pôr "as barbas de molho".

Foi aplaudido de pé durante cinco minutos.