Oposição que depende do fracasso alheio não “merece grande apreço”

“Há limites para tudo”, avisou Costa sobre os estivadores. O primeiro dia do segundo semestre do Governo terá negociações no porto e debate quinzenal na AR onde o primeiro-ministro promete responder a Passos Coelho

Fotogaleria
Imagens do Conselho de Ministros que assinalou os seis meses de Governo Miguel Manso
Fotogaleria
Miguel Manso
Fotogaleria
Miguel Manso

Foi com um discurso de apenas três minutos e 15 segundos, que retomava o essencial do que já escrevera de manhã na rede social Instagram, que o primeiro-ministro, António Costa, entrou em directo nas televisões e na rede social Periscope pela hora de jantar, no final do Conselho de Ministros Extraordinário de quatro horas que assinalou os seis meses de Governo. As respostas às críticas do líder do PSD, Pedro Passos Coelho, sobre o fraco desempenho da economia ficaram prometidas para o debate quinzenal marcado para esta sexta-feira de manhã no Parlamento – o mesmo dia em que Costa espera ter uma solução para a greve dos estivadores mas o primeiro-ministro não deixou passar a oportunidade em vão.

“Mesmo um optimista não espera elogios da parte da oposição. Não me surpreendem as críticas, mas sinto-me bastante confortável com o que tem sido a actuação nestes seis meses”, afirmou Costa depois de questionado pelos jornalistas sobre os ataques recentes de PSD e CDS. Falou da “satisfação por ver a confiança dos portugueses e dos agentes económicos na solução governativa” e por verificar que as “previsões de catástrofes que se anunciavam a cada semana foram passando”. Porém, “uma oposição cujo sucesso depende do fracasso alheio não é uma oposição que mereça grande apreço”.

Como o Governo não deve ser “oposição à oposição”, mas antes concentrar-se em “resolver os problemas do país”, a reunião desta quinta-feira – o primeiro dos quatro feriados repostos – serviu para fazer um balanço e também “perspectivar os próximos meses da acção governativa”. “Obviamente, nem tudo foi fácil ao longo destes seis meses, mas também ninguém poderia esperar que fosse fácil”, admitiu, dizendo estar a “trabalhar para cumprir” os compromissos com os portugueses, os partidos parceiros e a Europa.

Referiu a “prioridade” do relançamento da economia com base na recuperação dos rendimentos e a “nova prioridade centrada na visão estratégica para o país” incluída no Plano Nacional de Reformas “elogiado pela Comissão Europeia”. E enumerou, como fizera numa rede social de manhã, os instrumentos: a qualificação das pessoas, inovação, modernização do Estado, valorização do território, capitalização das empresas e diminuição das desigualdades. Tudo isso para atingir a “consolidação as finanças públicas de modo sustentado” e acabar com o sufoco das sanções de Bruxelas. As mesmas que Costa diz hoje serem “absolutamente injustas” já que se devem a incumprimento do anterior Governo e a políticas que a Europa “tanto elogiou no passado”.

Para além da polémica com o financiamento dos colégios com contratos de associação, o outro tema quente da semana é a greve dos estivadores do porto de Lisboa. António Costa acredita numa solução já esta sexta-feira, na reunião negocial que está marcada. Porque, diz, o actual mau funcionamento da estrutura portuária lisboeta “prejudica” o conjunto da economia do país e deu o exemplo “insustentável” dos industriais do mármore que estão a usar o porto de Valência para exportar. “Amanhã faremos um grande esforço negocial ao longo de todo o dia. Mas há limites para tudo. Se não se conseguir chegar a acordo, terá que ser encontrada outra solução como a que já tivemos que recorrer para permitir a retirada do porto dos contentores que lá estavam retidos.”

Precisamente seis meses depois, à mesma hora, na mesma sala, com os mesmos nomes. António Costa quis assinalar os seis meses do seu Governo fazendo toda a sua equipa regressar à Sala dos Embaixadores, no Palácio da Ajuda, e desvalorizando a mensagem de que não se deve voltar ao sítio onde se foi feliz.

Feliz e atrasado, mas desta vez sem ser culpa sua. Se na tomada de posse António Costa chegara ao palácio dois minutos depois do que previa o seu protocolo, desta vez fez a sua equipa esperar ao sol, no pátio do palácio, para a tradicional foto de família destas reuniões especiais. O voo que trazia o primeiro-ministro de Veneza atrasou-se e Costa chegou à Ajuda 20 minutos depois do previsto. De calças de ganga e pullover de malha azul escuro, sorridente, distribuiu beijos e abraços por alguns membros da equipa e encaixou-se no estrado azul com as cábulas da posição de algumas pastas, entre a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, e o da Defesa, Augusto Santos Silva.

Foto
A foto de família Miguel Manso

A sala, mergulhada numa penumbra que fez os fotógrafos e operadores de câmara ranger os dentes, acolheu 50 governantes, entre ministros e secretários de Estado, logo a seguir à fotografia de família no pátio do palácio. Entre os ministros houve três faltas à chamada – Luís Filipe de Castro Mendes, ministro da Cultura; Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; e Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infra-estruturas. Do que se disse nas três horas e meia de reunião pouco se sabe, mas sabe-se pelo menos que o secretário de Estado da Indústria não esteve desligado do mundo: por volta das 17h30 João Vasconcelos estava a colocar fotos dos jornalistas na rede social Facebook. 

O sobe e desce dos ministérios

Seis meses a fazer regressar as políticas. E a política

Radiografia política de 180 dias

Sugerir correcção
Ler 9 comentários