O que é a felicidade?
É da tristeza - e só da tristeza - que deveríamos falar.
O que é a felicidade? Será perceber a tristeza de perdermos as coisas boas que já temos?
A felicidade é manutenção. É "não me dêem nada do que eu peço mas também não me tirem nada do que eu preciso". É a mais ingrata de todas as resignações: "sim, facilmente me imagino numa situação ainda mais aflitiva do que a minha".
A felicidade são comparações. Schopenhauer definiu o prazer, gratuitamente, como a ausência do sofrimento. Mas isso não é prazer. Prazer é prazer. Nem tão-pouco a felicidade é a ausência de infelicidade. Felicidade é felicidade. Mas a imaginação das tristezas que não se têm - sabe-se lá por que sortuda combinação de circunstâncias - ajuda muito.
Para se ser feliz ajuda muito ter-se uma boa imaginação: quer nas coisas em que se pensa ter sorte, quer nas coisas em que se pensa podermos ter tido mais azar.
Ser feliz é o conforto de uma hesitação: "sei lá o que posso fazer para ser mais feliz..." Mais feliz? A sério? Mais feliz não existe. Só existe feliz e infeliz. A pergunta realmente triste é "será que sou feliz sem sabê-lo?"
A felicidade é indiferença. É bocejar quando se fala no assunto. É achar que é tudo uma questão de sorte. E é, sobretudo, a asquerosa insensibilidade perante a tristeza que vem do azar e da realidade da vida e de viver.
É da tristeza - e só da tristeza - que deveríamos falar. É a infelicidade que é difícil de definir, por estar tão espalhada. O resto - incluindo a felicidade - é só chatice.