O atraso da 5 de Outubro
As mudanças estão aí, e o ministro da Educação falou demasiado tarde.
Sempre que muda o Governo há a tentação de mudar tudo. Mudam os nomes de muitos ministérios, criam-se uns quantos, transferem-se áreas de uma tutela para outra, alteram-se moradas, enfim, talvez fosse interessante fazer as contas aos custos destes pequenos faits-divers que, em geral, pouco ou nada contribuem para a verdadeira eficácia das políticas. Já a instabilidade permanente a que estas são sujeitas, grande parte das vezes mais para responder à pressão dos lobbies amigos do que em resultado de uma estratégia global e estruturada assente na análise e no conhecimento profundo de um determinado sector, isso sim, tem custos que o país não se pode dar ao luxo de continuar a suportar. Só para se ter uma ideia, nos últimos 26 anos, os governos alteraram as leis fiscais à média de dezanove vezes por ano, num total de 492 alterações, segundo um estudo dos economistas Joaquim Miranda Sarmento e Inês Duarte, citado pelo Diário Económico. É incomportável! E as conclusões não seriam muito diferentes caso se tratasse dos sectores da Saúde ou da Educação. Neste último, ainda a semana passada ocorreram duas mudanças significativas — o fim da avaliação dos professores e das provas do 4.º ano —, sem que o novo ministro do Governo socialista tenha dito uma única palavra sobre o assunto. Um silêncio sepulcral que se manteve até ontem, depois de virem a público notícias dando conta do regresso das velhas provas de aferição para substituir o fim dos exames do 1.º ciclo. Ao que parece, o ministério da 5 de Outubro até considera que a avaliação é um instrumento essencial para “aferir o desempenho do sistema”, propondo-se mesmo construir um novo modelo com a “comunidade educativa”. Mas dificilmente o conseguirá. Não agora, quando já estão na calha novas propostas para acabar com os exames do 6.º e do 9.º anos e depois do ministro e do PS terem sido ultrapassados pela pressa dos seus aliados no Parlamento.