Maria de Belém avisa direcção do PS que não pode ser discriminada

Em Bragança, onde almoçou com apoiantes, candidata disse que útil é o voto na sua candidatura e defendeu que, apesar de abrir as portas aos independentes, o seu partido não pode discriminar os militantes tratando melhor esses independentes.

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Adriano Miranda
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Dois dias depois do presidente do PS, Carlos César, ter dado o seu apoio a Sampaio da Nóvoa, a socialista Maria de Belém abriu as hostilidades e avisou a direcção nacional do partido que não aceita ser “discriminada” e que não pode ser “considerada como menos digna do apoio dos socialistas”.

Ao nono dia de campanha eleitoral, a antecessora de Carlos César na presidência do PS radicalizou o discurso e disparou: “Era o que faltava que fosse mais importante apoiar independentes do que socialistas e que os socialistas tivessem que ficar para trás sem haver nenhuma razão para que isso aconteça”, declarou a candidata presidencial.

Em Bragança, onde teve um almoço-comício, Maria de Belém apelou directamente ao voto na sua candidatura, puxando do seu currículo e da sua "sensibilidade, serenidade e sensatez", para dizer que “é capaz de ir buscar mais votos a um espectro mais alargado do que os outros candidatos, designadamente aqueles que se situam em áreas próximas, mas que não têm este desempenho – nunca o tiveram. E não sabemos como é que vão desempenhar o papel, por muitas promessas que possam fazer em campanha eleitoral”, acrescentou.

“Muito claramente digo que o voto útil é na minha candidatura, para quem considera que o único candidato que vem da direita não satisfaz as exigências para desempenhar o papel de Presidente da República”, disse Maria de Belém Roseira, um dia depois de ter frisado, em Arcos de Valdevez, no distrito de Viana do Castelo, que ela é a candidata da área do PS: “Socialista candidata, sou eu!” O recado era, uma vez mais, para a direcção do partido.

O endurecimento do discurso de Maria de Belém vem no seguimento de intervenções, dirigidas à direcção do PS, protagonizadas pelo influente Jorge Coelho e por Manuel Alegre, que protestou contra aquilo que considera “batota”, uma alusão ao apoio que vê o partido a dar a António Sampaio da Nóvoa, que disputa o mesmo eleitorado de Maria de Belém. Isto, apesar de a direcção do PS ter decidido que o partido não apoiaria ninguém na primeira volta das presidenciais. Vera Jardim, porta-voz da candidatura de Belém, também agitou o fantasma da “batota” nesta campanha eleitoral.

E mostrando que tem um discurso e uma postura diferente em relação aos restantes candidatos declarou: ”Eu podia não estar aqui. Há poucas pessoas e poucos votos, mas há princípios mais importantes do que o mero interesse eleitoralista de caçar votos”, justificou, sublinhando que o Presidente da República “tem de se preocupar com a coesão territorial” e dar visibilidade a “estes enormes esforços”, sob pena de “muito ficar escondido e insuficientemente valorizado”.

Mais tarde, na Guarda onde visitou a Cerci local (Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados), a candidata seria confrontada com o tom que introduziu na campanha, respondendo não haver motivo para crispação. Mas – notou - “há razões e todas as razões para falar verdade e aquilo que é, é aquilo que deve ser e eu neste momento estou a dizer aquilo que é”. “Eu falo do que sei e sei do que falo e acho que isso fica completamente demonstrado com a campanha que tenho estado a fazer e com estas visitas e estes contactos que temos estado a estabelecer”, frisou.

Sobre o debate em que vai participar esta terça-feira com os restantes candidatos presidenciais, Maria de Belém pouco disse. Não sabe se ele vai servir para uma clarificação, mas esclareceu que, pela sua parte, fará “o possível” por tentar clarificar as linhas gerais do seu programa.

Sem revelar qual vai ser a sua estratégia para o último debate antes das eleições presidenciais, a candidata disse: “As pessoas têm assistido a reportagens, àquilo que fazem e dizem os candidatos, mas independentemente do que se faz e do que se diz, é preciso olhar para o candidato mais atrás, saber o que é que ele fez ao longo da vida, com o que é que se comprometeu, a que causas aderiu, onde estava quando houve os problemas, onde é que estava quando era necessário fazer alguma coisa e actuar e isso tem de ser tudo avaliado”. Quanto na si, sublinha que não passa pelas coisas: "Eu estou nas coisas e analiso-as”.

A seis dias das eleições, Maria de Belém continua a fazer campanha sozinha, sem o PS e isso  voltou a ser visível. O dia foi passado em Bragança e na Guarda. Visitou uma fábrica de enchidos tradicionais, a Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados, tendo reunido com as direcções dos institutos politécnicos das duas cidades.

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