Marcelo não tinha a "ideia maluca" de ser Presidente

Presidente demorou-se em duas escolas de Maputo, a dançar, a tirar selfies e a dar lições improvisadas sobre diversos temas, da liberdade de imprensa à educação sexual.

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Na escola pública moçambicana o Presidente dançou Rui Ochôa/Presidência da República
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Rui Ochôa/Presidência da República
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O Presidente português visitou esta quarta-feira duas escolas em Maputo, a Escola Portuguesa e depois a Estrela Vermelha, e acabou a dar uma aula improvisada sobre temas da liberdade de imprensa à educação sexual.

Durante cerca de três horas, sem pressa, Marcelo Rebelo de Sousa conviveu com centenas de crianças e jovens destas duas escolas moçambicanas, ouviu canções, tirou fotografias, ofereceu livros, recebeu presentes.

"Quarenta minutos, o que é isso na vida?", respondeu, quando lhe disseram que o programa estava atrasado, na Escola Portuguesa de Moçambique, uma instituição dependente do Ministério da Educação português e da qual o Presidente é patrono.

De lá, Marcelo Rebelo de Sousa seguiu para a Escola Secundária Estrela Vermelha – no bairro da Mafalala, onde nasceram o poeta José Craveirinha e o futebolista Eusébio.

Nesta escola do ensino público moçambicano, esteve à conversa com alunos numa das salas, dispondo-se a responder às suas perguntas durante meia hora. "Eu só quero saber se vossa excelência sonhava algum dia se tornar Presidente", perguntou uma rapariga.

O chefe de Estado respondeu: "Não. Não, senhora. Eu de vez em quando vejo nos jornais amigos meus dizerem que eu quando era pequenino queria ser Presidente. Mas eu não me lembro nada dessa ideia maluca. Nada, nada, nada, nada".

Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que ao longo da vida pensou "fazer outras coisas, mesmo na política", e umas fez outras não. "Mas ser Presidente da República não pensava, aconteceu. Pode acontecer com qualquer um de vocês, um dia mais tarde".

Depois, defendeu que "há pessoas mais importantes numa sociedade do que um Presidente da República: um professor, um bombeiro, um polícia, um médico, um enfermeiro".

"O Presidente não é o mais importante, é o mais responsável", prosseguiu, deixando um desabafo sobre a solidão das suas tomadas de decisão: "Sinto que muitas decisões tomo sozinho, já não dá para perguntar a outro acima de mim".

Nesta conversa, o chefe de Estado reviveu os seus tempos de professor, com à vontade, e várias vezes fez rir os estudantes, como quando lhes pediu: "Quem é mau aluno, levante o braço".

Ou quando prometeu pensar numa forma de levar alunos desta escola a Portugal: "Eu vou imaginar um esquema, sem que ninguém saiba. O pior é que a televisão está a gravar. Eu depois falo-vos".

Ao mesmo tempo, trocou ideias com os jovens sobre temas sérios, como o contributo dos casamentos prematuros e da gravidez precoce para o abandono escolar, um tema que lhe foi colocado timidamente por uma aluna.

Marcelo considerou que a solução "também passa pela educação, a educação sexual e a educação relativamente às questões familiares", e aconselhou: "É bom que desde muito novos e muito novas saibam o que é preciso saber para prevenir o que pode ser um problema comunitário e social grave".

O Presidente português incentivou os alunos a estudar, "mesmo quando não apetece", para mais tarde poderem servir o seu país, e porque muitas crianças não têm a mesma oportunidade: "É uma injustiça se não aproveitarem essa ocasião".

E falou na liberdade de expressão e de imprensa, dizendo que "onde há liberdade para escrever, liberdade para falar na rádio e na televisão há o que se chama democracia" e que "um país forte é aquele em que cada um pensa pela sua cabeça".

Este assunto foi suscitado por uma jovem que lhe lembrou que "também foi também jornalista", o que o deixou espantado: "Ela sabe muito da minha vida, ela é muito perigosa".

Nesta conversa, contou ainda que chegou a pensar viver parte do tempo em Portugal e outra em Moçambique, mas "não se concretizou", e explicou por que se sente em casa em Maputo: "Chego e conheço as ruas, chego e conheço os edifícios, chego e conheço o mercado".

Marcelo Rebelo de Sousa falou também na doçura dos moçambicanos, em contraste com os "povos que são muito chatos", que não quis nomear: "Não posso, sou Presidente da República de Portugal".

"O povo português também é muito caloroso, mas o moçambicano é mais caloroso. O português às vezes é chato. É raro, mas há um ou outro português muito chato", acrescentou, provocando novamente risos na sala.