Foi para isto que se fez o 26 de Novembro?
Passados cinco meses, onde raio está o “tempo novo”? Vestiu-se de tempo velho.
Com a inconsciência própria de quem nada aprende com o que lhe acontece, o país recebe as novas previsões de crescimento como se fossem um facto normal. Aparentemente já ninguém se lembra que o crescimento era o alfa e o ómega do regoverno de António Costa, e que sem ele toda a estratégia económica do PS desaba como um castelo de cartas. Se o país não crescer, ou se crescer o mesmo do que em 2015 mas com mais despesa pública (crescimento em 2015: 1,5%; actuais previsões de Bruxelas para 2016: 1,5%), onde está essa espectacular mudança de estratégia económica e política que António Costa trazia consigo? Onde está o “tempo novo” que justificou a tomada de posse de 26 de Novembro, depois de o PS ter sido vergonhosamente derrotado nas eleições?
Esqueçam o défice, o investimento, as importações, o desemprego. Esqueçam a tese de que crescer à custa do consumo interno iria desequilibrar a balança comercial. Esqueçam tudo isso e concentrem-se nas contas de Primeiro Ciclo que António Costa não se cansava de nos vender: 1) o Estado gasta mais, 2) o Estado coloca mais dinheiro no bolso dos portugueses, 3) os portugueses compram mais, 4) o país produz mais, 5) o PIB aumenta, 6) o desemprego cai, 7) o Estado cobra mais impostos, 8) todos ficamos mais felizes, porque aquilo que se recebe compensa (os célebres multiplicadores) aquilo que se investe. Este projecto de keynesianismo para totós era tudo o que António Costa tinha para nos prometer – mas prometia com grande empenho, e muitas vezes. Recordo apenas uma de infindáveis frases, dita a este jornal a 5 de Fevereiro de 2015: “Essa ideia peregrina de que é possível relançar a economia sem haver um aumento significativo do investimento público é uma ideia absolutamente fracassada.”
António Costa não queria fracassos e os números do programa eleitoral do PS acompanhavam o seu optimismo. Peritos socialistas garantiam que com as medidas propostas o PIB iria crescer 2,4% em 2016 e 3,1% em 2017. Ora, um ano depois, em que ponto é que nós estamos? O próprio governo prevê um crescimento de 1,8% tanto em 2016 como em 2017 (um pequeno desvio de 72% nas previsões, sem que nada de especial tenha acontecido no mundo), enquanto Bruxelas acaba de agravar as suas estimativas de 1,6% para 1,5% este ano, e de 1,8% para 1,7% em 2017. Lembram-se da mensagem de Natal de António Costa? Eu lembro-me: vinha aí “um tempo novo” que iria trazer “prosperidade e crescimento”. Passados cinco meses, onde raio está esse “tempo novo”? Vestiu-se de tempo velho: austeridade para quase todos, alívio para alguns e estagnação económica. Que o país pareça tão conformado com mais esta fraude política, económica e intelectual, eis o que nunca deixará de me espantar.
P.S.: – Estando eu aqui a pregar o rigor nas contas, convém que corrija os meus próprios erros. Na semana passada afirmei que “existem em Portugal mais de 3,6 milhões de pensionistas”. Como Francisco Louçã salientou no blogue Tudo Menos Economia, e bem, esse é o número de pensões que são pagas pelo Estado – pensionistas são só 2,5 milhões. É certo que haver 1,1 milhões de pensões pagas em acumulação a 2,5 milhões de pensionistas ainda é um facto mais escandaloso do que aquele que eu referi, mas nem por isso deixa de ser um erro da minha parte, pelo qual peço desculpa aos leitores. Aproveito também para agradecer a Francisco Louçã a dedicada atenção com que lê os meus textos.