Esquerda europeia procura resposta à crise

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Hollande abriu o Eliseu à reunião dos líderes da esquerda europeia, entre eles Renzi ALESSANDRO GAROFALO/REUTERS

A expectativa de que possa haver na União Europeia janelas de oportunidade que permitam a mudança de orientação é assumida pelo secretário-geral do PS, António Costa, para quem a origem do problema está no facto de na União Europeia se ter rompido "o consenso entre democratas cristãos e sociais-democratas".

Com o crescendo de influência dos neoliberais no centro-direita europeu nas últimas três décadas, os partidos sociais-democratas e socialistas foram influenciados por uma visão que dá prioridade ao papel dos mercados como reguladores sociais. Este movimento ficou conhecido por Terceira Via e teve como pai o antigo líder do Partido Trabalhista e primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e como ideólogo o sociólogo Anthony Giddens. Um dos líderes europeus decisivos no sucesso da Terceira Via foi também o líder do SPD e chanceler alemão, Gerhard Schroder.

Assim, ruptura entre democratas-cristãos e sociais-democratas não esteve exposta durante anos, precisamente, porque "a Terceira Via levou os sociais-democratas ao desvio social-liberal", defende António Costa, que explica que esta aproximação dos partidos sociais-democratas ao neo-liberalismo "até facilitou a dominação da direita pelas correntes neo-liberais e levou à quase extinção da democracia-cristã". É por isso que António Costa frisa que a presidência da Comissão por Jean-Claude Junckers "é a última oportunidade dessa democracia-cristã e é isso que tem sido o elo da aliança com Martin Schultz para a reconstrução europeia".

António Costa conclui, garantindo que "os partidos socialistas em toda a Europa aprenderam a lição e hoje é difícil encontrar vestígios da Terceira Via". Isto num momento em que é visível uma forte tendência dos partidos socialistas e sociais-democratas europeus, organizados no Partido Socialista Europeu e na Internacional Socialista, se unirem para inflectir o rumo da UE.

Nesse sentido, têm ocorrido reuniões sob a égide do presidente francês François Hollande e do primeiro-ministro italiano Matteo Renzi. E deverá caber a Renzi a tentativa de começar a pressionar oficialmente mudanças na orientação da UE nomeadamente em relação ao modo de encarar a resolução das dívidas externas de vários países do Sul da Europa, entre eles a Itália. Até porque, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, Hollande está apostado em tutelar o movimento de redefinição da social-democracia e transformação da orientação da UE, mas é Renzi quem tem perfil e peso político para liderar o debate, já que é quem mais tem afrontado Angela Merkel nas discussões, até no decorrer das cimeiras europeias.

Esta acção conjunta para influenciar as orientações políticas na União Europeia voltaria a estar esta sexta-feira em cima da mesa na cimeira convocada para Roma e que foi adiada devido à queda do avião da EgyptAir. Presidida por Renzi, contaria com Hollande, com Costa e com vários líderes de Governo e de partidos sociais-democratas, socialistas e progressistas como o chanceler austríaco, Christian Kern, o primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, o líder do PSOE, Pedro Sanchez. Estava previsto também que participassem como observadores o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, a alta representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, Federica Mogherini.

Esta coordenação estratégica da social-democracia tem sido delineada desde o Congresso do Partido Socialista Europeu, em Budapeste, a 12 e 13 de Junho de 2015, e consiste numa tentativa de redefinição da social-democracia europeia pós Terceira Via. A reunião em que ganhou visibilidade internacional foi a realizada no Palácio do Eliseu, em Paris, presidida por Hollande, a 12 de Março, em que participaram, além de Costa, os primeiros-ministros da Suécia, Stefan Lofven, da Croácia, Zoran Milanovic, de Malta, Joseph Musca, da Roménia, Victor Ponta, além de Schultz e de Tsipras.

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