Enruguei-me
No dia das eleições ouvi um homem a dizer, em minuto e meio de análise política “crispação” três vezes e “crispar-se” duas.
No dia das eleições ouvi um homem a dizer, em minuto e meio de análise política “crispação” três vezes e “crispar-se” duas.
Epifanei-me: se calhar esta pessoa não sabe o que crispação quer dizer. Depois assustei-me mesmo: ele se calhar aprendeu a dizer “crispação” doutro comentador que disse a palavra, também sem saber o que quer dizer.
É como a experiência dos três macacos treinados para bater em quem tenta fugir de uma caixa aberta. Cada macaco que chega tenta fugir, leva, e aprende a deixar-se ficar quieto. A certa altura já se podem retirar os três primeiros macacos – os que deram o exemplo – e os outros macacos encarregar-se-ão de repetir o comportamento punitivo. Depressa se chega a uma situação em que nenhum dos macacos que bate nos novatos tem memória de quem é que lhes ensinou aquela brutalidade. O resultado é o mesmo com seres humanos.
E assim me deprimi: pouco interessava como os dicionários definem crispar, crispar-se e crispação. O significado que vai ficar (se é que já não ficou) é aquele que lhe dão os comentadores ignorantes, várias vezes ao dia ao longo dos últimos anos.
Mas que significado é esse? Não há dicionário que eu possa consultar. “Tirando pelo sentido”, que é o método científico que eles próprios devem usar para aprender o significado de palavras que parecem impressionantes a parolos, “crispação” significará agressividade, volatilidade competitiva ou simplesmente irritação mútua. Tal como nos tais macacos.