As novidades dos partidos

Actualmente as primárias já não são exclusivo dos EUA, existem em várias democracias europeias.

Os partidos novos e os velhos procuram novidades para convencer os eleitores da sua vontade de regenerar a democracia. Mas, sinceramente, olhando para a abstenção, não o conseguem fazer.

As primárias e a possibilidade de candidaturas independentes vêm sempre rodeadas de precauções regulamentares. Todas estas novidades têm que passar pelo crivo partidário, não vá o diabo tecê-las e perderem o controlo.

Nos Estados Unidos (EUA) os partidos são débeis e os seus candidatos têm que montar campanhas pessoais financiadas com recursos privados e focados num contexto muito presidencialista.

Nada tem que ver com o que se passa na Europa, com partidos fortes, disciplinados e centralizados, financiados essencialmente com recursos públicos e submetidos a controlos frouxos, para deste modo garantir o predomínio dos seus dirigentes, como o que existe em Portugal nos principais partidos: CDS; PSD; PS; PCP; BE.

Por outro lado, quando o candidato é forte ninguém se atreve a contestá-lo e cai por terra a tentativa de mudança e o aparecimento de outras caras, pois não há rivais no terreno. Perde-se a oportunidade de ver uma acesa disputa e o funcionamento das primárias num partido.

Quem faz primárias, fá-lo com obstáculos enormes para quem tenta chegar ao poder: curto espaço concedido às inscrições e ao censo de participantes.

As verdadeiras primárias consistem em saltar os limites do partido e convertê-las em rampa de lançamento de um candidato que depende da sociedade civil para vencer ou perder.

Um exemplo: votaram 3 milhões de pessoas nas primárias socialistas de 2011, legitimando Françoise Hollande para disputar a presidência de França contra Nicolas Sarkozy, que derrotou em 2012.

Os partidos velhos, tradicionais, debilitaram-se tanto que, para tentarem restabelecer laços mais claros com simpatizantes e a restante sociedade, utilizam as primárias como novidade e como meio de o fazer.

Os partidos novos aparecem e desaparecem ao sabor da conjuntura. Quando um partido é liderado em bicefalia não dá bons resultados. Os socialistas espanhóis perderam as eleições de 2000 (Joaquin Almunia e Josep Borrell) para o PP. Em Portugal, o BE com João Semedo e Catarina Martins não tinha dado bons resultados. Um problema de saúde afastou João Semedo do primeiro plano e catapultou Catarina Martins para um resultado histórico, superior a Francisco Louçã, na casa dos 10%, nas eleições legislativas recentes.

Actualmente as primárias já não são exclusivo dos EUA, existem em várias democracias europeias: França, Itália, Espanha, Portugal e mais meia dúzia de países.

Nos EUA, os candidatos deixam-se de poesia e vão à prosa. Nas primárias americanas os ataques são ferozes não se salva nada nem ninguém. Mas a capacidade de cicatrizar as feridas é elevada e a reconciliação existe quase sempre. É o caso de Barack Obama e Hillary Clinton – ele foi eleito presidente e ela foi secretária de Estado depois de uma campanha dura, feroz e acutilante até ao extremo para a nomeação do Partido Democrático. Faz parte do jogo até ao assalto final eleitoral.

As primárias, nos EUA, têm uma função básica de oferecer a ilusão de participação popular no arranque da caminhada que culmina na Casa Branca: facilitam o retail politics; política ao pormenor; conectar-se com a maior quantidade possível de votantes; ir ter com as pessoas; falar às pessoas; ouvir histórias e estreitar laços.

Há espaço para o imprevisto, para o espontâneo, para que essa exposição tenha eficácia e inclusive modifique a forma de ver as coisas do candidato.

Fazer política de porta em porta faz reflectir acerca do mundo real que os rodeia. Tem um papel fundamental em ordenar o processo político e ajudar a forjar relatos dos candidatos e submetê-los a escrutínio.

As primárias são uma novidade que está na forja na Europa. A França fez a sua estreia em 2006 no PSF, todos os militantes puderam votar nos candidatos: Dominique Strauss-Khan; Laurent Fabius; Sègonéle Royal. Sègonéle Royal venceu as primárias do PSF mas perdeu na disputa com Nicolas Sarkozy para a presidência de França.

Mais tarde, em 2011, puderam votar, para além dos militantes socialistas, os simpatizantes socialistas, a partir de um documento em que subscreviam os valores da esquerda e depositavam 2 euros. François Hollande venceu e foi eleito presidente francês.

Recentemente, o UMP de Sarkozy comprometeu-se a realizar primárias para escolher o seu candidato.

Em Portugal, o PS foi pioneiro na abertura a eleições internas com a participação de simpatizantes. António Costa venceu as primárias e é primeiro-ministro. O PSD realiza directas, mas não são abertas a simpatizantes, o CDS já realizou mas foram eliminadas em 2011.

Fundador do Clube dos Pensadores

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