Director de O Diabo e ex-militar absolvidos de difamação de Manuel Alegre

Antigo candidato a Belém considerou a sentença "surpreendente" e anunciou recurso.

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Manuel Alegre é o primeiro assinante do abaixo-assinado Daniel Rocha

O tenente-coronel João José Brandão Ferreira foi julgado por difamação por artigos publicados em blogues, tendo o arguido reiterado em julgamento a tese que Manuel Alegre cometeu, aos microfones da rádio Voz da Liberdade, em Argel, traição à pátria, ao incitar os militares portugueses a desertar, ao conviver com os líderes dos movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné e ao ajudá-los na guerrilha contra as tropas portuguesas.

A juíza dos Juízos Criminais, citando jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e o direito consignado na Constituição Portuguesa à liberdade de expressão, considerou que Brandão Ferreira emitiu a sua opinião sobre factos históricos e que não se verificou o crime de difamação.

Esteves Pinto foi absolvido depois de o tribunal admitir que, à data da publicação de um artigo considerado difamatório do dirigente socialista, o arguido já não exercia, na prática, as funções de diretor de O Diabo, por motivos de doença. Miguel Teixeira, chefe de redação do jornal também à data dos factos, esteve ausente deste julgamento e foi declarado contumaz pelo tribunal, sabendo-se que o mesmo se encontra no estrangeiro.

Um outro arguido do processo, o general Fernando Paula Vicente, assumiu, na primeira sessão em acta de julgamento, que foi em "estado de erro" que chamou "desertor" a Manuel Alegre, num post colocado num blogue, tendo, perante tais explicações, Manuel Alegre desistido da queixa e do pedido de indemnização cível contra este militar. Saiu, assim, do processo.

No final do veredicto, o histórico socialista considerou a sentença "algo surpreendente", porque "a liberdade de expressão não permite tudo", designadamente que uma pessoa seja "difamada", ou seja, alvo das "insinuações" em causa. Alegre adiantou à Lusa que vai recorrer da decisão por uma "questão de dignidade e de princípio", insistindo que a "liberdade de expressão não permite tudo, não permite o atentado ao bom nome e à dignidade das pessoas".

Os factos e artigos alegadamente difamatórios foram divulgados antes das eleições para a Presidência da República, em Janeiro de 2011, nas quais Manuel Alegre foi candidato.

Alexandre Lafayete, advogado de Brandão Ferreira, disse estar "satisfeito" com a absolvição do seu constituinte, observando que em Portugal há "muitas ideias feitas", por políticos e por alguma comunicação social, que é "incómodo saber a verdade do que realmente se passou antes do 25 de Abril e o que certas pessoas, que hoje são notáveis, fizeram antes do 25 de Abril".

O causídico admitiu que a juíza considerou que que o mais importante é a "salvaguarda da liberdade de expressão", designadamente sobre o que se passou na guerra de África, aludindo a jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

Na primeira sessão de julgamento, Nuno Godinho de Matos, advogado de Manuel Alegre, insurgiu-se contra a "agressão de carácter" ao histórico socialista, realçando a "coragem, o patriotismo e o dever cívico" do poeta e político socialista em combater um regime "tirano" e "cadavérico" que violava sistematicamente os direitos humanos, subjugando, pelas armas e com a ajuda da polícia política (PIDE), os naturais de Angola, Moçambique e Guiné.

"Manuel Alegre não é um traidor à pátria, é, sim, um cidadão exemplar, digno de respeito por todos os que não se reconheceram no estado nepotista que geriu Portugal entre 1926 e o 25 de Abril de 1974", disse Nuno Godinho de Matos.