Cuidados Paliativos são cuidados de rigor, excelência e qualidade
Os cuidados paliativos não são cuidados que se destinam apenas aos doentes moribundos. Se atuarem precocemente e a tempo, intervêm de forma decisiva na prevenção e controlo do sofrimento.
Exma. Sr.ª Professora Doutora Laura Ferreira dos Santos
Dirijo-me a si, essencialmente na qualidade de Presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, visto a principal visada do seu texto, publicado no Jornal PÚBLICO, no dia 17 de março, ser a nossa vice-presidente, a Dr.ª Ana Bernardo, mas também como Professor Universitário e Investigador na área dos Cuidados Paliativos e, não menos importante, como cidadão.
Quando eu esperava que o debate sobre o tema eufemístico da “morte medicamente assistida”, muito concretamente sobre a eutanásia, apesar de contaminado por utilização incorreta de termos que só confunde e baralha os cidadãos (Sim! Porque nem todos podem ter acesso a informação correta nem têm formação universitária que lhes permita diferenciar claramente os termos) pudesse atingir um nível de discussão adequada, surpreendeu-me muito pela negativa o seu artigo de opinião.
O tom e os argumentos utilizados não abonam nada em favor de uma discussão aberta, informada e demonstram muito claramente algum desespero por quem aposta numa posição mas não tem argumentos válidos, sejam eles científicos ou éticos.
Todo o seu texto demonstra uma profunda falta de conhecimento sobre o que são os cuidados paliativos, e como se pode atuar de forma rigorosa e científica no sofrimento. Vindo de uma académica tal é muito surpreendente, pois opinar e tomar posições sem ver os diversos prismas do problema, não é de todo a metodologia adequada para a resolução dos problemas.
Por outro lado, criticar e proceder a erradas interpretações sobre o que profissionais com mérito profissional (de muitos anos de exercício profissional na área e do melhor que existe em Portugal e estrangeiro) e científico proferem com base no conhecimento que têm dos seus doentes, sejam eles “pobres” ou “ricos”, “iletrados” ou “doutores” (Sim! A Morte é universal), sem que saiba, como o demonstra, o que são os Cuidados Paliativos, é duma baixeza moral, ética e científica que repugna.
Os cuidados paliativos não são cuidados que se destinam apenas aos doentes moribundos. Se atuarem precocemente e a tempo, intervêm de forma decisiva na prevenção e controlo do sofrimento. Isto é o que diz a nossa experiência, a Organização Mundial de Saúde e a evidência científica. Se os dois primeiros argumentos poderão não lhe fazer qualquer sentido, o último, como académica, dever-lhe-ia dizer muito.
Enfim, não sendo nada esclarecedor o seu texto, muito sinceramente como lhe disse acima, revela muito o desespero que considero existir no grupo de subscritores ou fortes apoiantes do manifesto, pois têm-lhes faltado argumentos válidos, discussão aberta e esclarecedora de todos os cidadãos, papel que, muito honestamente, tem sido feito por quem tem manifestado reservas ao documento. Esta minha assunção é reforçada por ver que as grandes figuras que foram impulsionadoras do documento estão agora na retaguarda, como generais que enviam os seus soldados/peões para o campo de batalha. E muito sinceramente, deixe-me que lhe diga que a Sr.ª Professora está a fazer muito mal o seu papel. Discutir e opinar sobre o que aparenta desconhecer não é de todo uma boa estratégia.
Mais uma vez, lamento a sua tomada de posição, completamente errada, falhando o alvo, fazendo juízos de valor.
Neste sentido, permita-me que lhe dê a oportunidade, se assim o desejar, de frequentar um dos Cursos de Cuidados Paliativos que a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, organiza anualmente, para assim poder saber o que são e que estratégias, que não a morte dos doentes, utilizam para prevenir e controlar o sofrimento destes, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida.
Não lhe ficou bem colocar em causa o profissionalismo e competências de profissionais, só porque são contrários às suas ideias. Desejo muito que recorde o seguinte: Cuidados Paliativos são cuidados de Rigor, Excelência e Qualidade e assumidos pela comunidade científica como a resposta de Excelência ao sofrimento pela intervenção direta neste, e não através da morte de quem sofre.
Presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos