Cartas à Directora
Refugiados, já não é a primeira vez
Como filho de uma refugiada austríaca, que em 1938 teve de fugir de Viena, por Hitler – um austríaco aos comandos da Alemanha – ter tudo roubado/desfeito, entristece, hoje, estar a ver que repetimos tudo, como se nunca tivesse antes acontecido.
Agora, chegam refugiados já não da Europa para a Europa, mas da Síria desfeita, e não só, para a Europa e nada entendemos. E queremos que não entrem. “Fora com eles”.
Estamos totalmente entorpecidos, nada aprendemos, nada mesmo com a última Guerra Mundial, quando Hitler queimou aqui na Europa 6 milhões de judeus e mais uns ciganos, e destruiu famílias inteiras, projectos de vida, vidas atiradas à morte!
Hoje, na Síria e na Líbia, muito por culpa nossa, ou no Afeganistão, matam pessoas com menos respeito com que o fazem a outros animais. Desfazem-lhes os poucos “haveres” que possam ter, e ainda são roubados endividando-se a saldar num futuro de “sonho”, por traficantes sem vergonha, que lhes prometem porto seguro, e quando sem nada – uma vez que fazer um saco para fugir pode não dar tempo, talvez só nos filmes – chegam à Europa, para ficarem vivos, fazemos de conta que nada vemos. (…)
Quando Hitler provocou situações análogas houve mais solidariedade por quase toda a Europa e até um nosso compatriota em Bordéus estragou a vida – Aristides de Sousa Mendes – para ajudar, por ser humano dentro da desumanidade que “reinava”, ajudando a chegar a porto seguro os que conseguiram lá chegar, com a roupa do corpo.
Ao escrever estas linhas, arrepia entender que a História se repete, que fazemos sempre o mesmo (…). E olhando para trás, a sensação de que a última Guerra Mundial nada adiantou, no mínimo arrepia. (…)
Augusto Küttner de Magalhães, Porto
Maxismo
O cartão de cidadão é machista, assim como a descrição anatómica que diz que eu tenho dois braços em vez de duas braças. Da mesma forma o meu homem se queixa que lhe atribuam duas pernas em vez de dois pernos. No latim e no grego, línguas mães do português, o género neutro é expresso graficamente, na nossa língua é expresso ora pela forma masculinas ora pela feminina, consoante a história linguística. De facto uma burrada é diferente de um burrado e um caricato não é igual a uma caricata. De facto, ao contrário dos homens, não pertencemos ao género humano mas à génera mulherana.
Maria Antónia, Lisboa
Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo
Apesar de não concordar com a maioria dos ideais do PCP, confesso que me habituei a respeitar Jerónimo de Sousa considerando-o incapaz de proferir uma mentira, excepto as que o comité obriga. Hoje, confrontado com a acusação de ter abandonado o hemiciclo na hora da votação, veio desculpar-se que tinha uma entrevista para aquela hora. Quero lembrar-lhe que lhe pago para estar no parlamento a desempenhar a sua função e não para se desenfiar para acções de carácter pessoal. Caso este caso se tivesse passado com um adversário de outra bancada, parece estar a ouvi-lo a proverbiar: a mentira é como a desgraça, nunca vem só. A que eu acrescentaria, dirigindo-me a si, que no melhor pano cai a nódoa. E tudo isto por ter que estar com um pé dentro e outro fora, situação a que não estava habituado.
Jorge Morais, Porto