Cartas à Directora
Abril cansa-me
É sempre assim! No princípio é só magnetismo, delícias de mil e uma noites, a fruição de todos os instantes, mas à medida que viram as folhas dos seus dias contados, vão ficando enfadonhos, não chegam ao fim, nem os podemos ver, os dias do mês.
Este ano não vou comemorar Abril, viro-me para outros.
Os outros andam meio aborrecidos comigo – não os mimo convenientemente, nem um piropo – e aceito as suas razões.
Abril caiu-me sempre bem, mas o clima tem mudado muito, e nos últimos anos tem sido um mês de chuvas inesperadas, bruscas mudanças de temperatura, uma grande instabilidade que se reflecte nas pessoas.
Optimistas que sejamos, um clima débil de carácter, erode o alento, baixa a guarda, não se sabe o que vestir. Nesse respeito deixámos de contar com Abril, que se tornou volúvel, dúbio, pouco fiável.
Há outros meses que não me lembro habitualmente deles e merecem um olhar novo. Por exemplo Maio. Antes via-o como a passagem feita a correr para o Verão, logo ali, no final deste. Mas Maio tem potencial de vir a ser um grande mês. Porquê?
Porque é quando volto a ter vontade de sorrir depois das tristezas que Abril semeia, quando recupero da ressaca de um mês que era de foguetório e se tornou num mês de pesadelo, desengano, fracasso. Para mim e até prova contrária, finou-se.
Como as coisas mudam! Como os meses nos afectam!
Pelas minhas razões que já ditas, sublinho e anseio que este ano acabe depressa e no próximo fim-de-semana é certo e decidido que não me vou passear no Largo, feito ingénuo - esgotado de me passear pelo Largo - e nada muda, só nos cansamos.
Ponho-me mas é ao largo, vou fazer as primeiras experimentações científicas anuais da assadura da sardinha, recatando-me, só com os meus, preparando-nos para Junho, esse sim o novo rei dos meses: Camões foi um grande poeta - o seu dia e da raça - o Santo António é dos nossos, o São João e o São Pedro se não forem também o são.
Não há mês tão comemorativo como Junho, todos os dias festa, alegria, convívio, orgulho mesmo.
Dos outros meses não tenho queixas, uns aturam-se mais que outros.
Novembro também não é mau, mas tem má reputação, começando pelo primeiro dia, mesmo assim vou estar atento a ele. Já Outubro, depois de reabilitado, com cara lavada, e um feriado muito discutível mas que sabe bem feriar, é mês como deve ser.
Dezembro é fiável, Janeiro esperançoso, em Fevereiro temos o carnaval com chuva, o que pega bem. Março é metido consigo próprio mas não tem má índole. Restam Julho e Agosto, para a folia, e Setembro que não tem boa fama por ser mês de muita despesa, mas é um mês honesto.
De todos eles, só mesmo Abril é que anda ultimamente a empolgar-me os nervos, presumido de importante, narcísico, para dar em nada ao fim deste tempo todo.
Por mim dou-lhe castigo, pode ser que sem atenções caia em si, e volte um mês a ser um mês como deve ser, o rei dos meses do ano.
Luís Robalo, Lisboa