Cartas à Directora
Do terror pelo ódio ao amor pelo (ao) terror?
29 de Março de 2016. Um homem, ameaçando fazer detonar explosivos, desviou um avião egípcio para Larnaca, no Chipre e, aí chegado, sequestrou no avião os passageiros até se entregar e ser preso pelas autoridades.
Mais uma situação de terror. Depois de Bruxelas, depois de Paris (Charlie Hebdo e Bataclan), depois de Madrid, depois de Nova Iorque, depois de….
É certo que, tanto quanto se sabe, este sequestrador de Chipre, “justificou-se” com “razões passionais”. De qualquer modo, enquanto durou, objectivamente, constituiu uma situação de terror (e mormente para os passageiros do avião).
Parece que o terror tende a tornar-se um instrumento de grande “utilidade”, geral, universal, “polivalente”.
Aterrorizados, já conhecíamos o terror pelo (para o) fanatismo e o terror pelo (para) o ódio. Agora, com este caso, sabemos do terror pelo (para o) amor.
De tão “polivalente”, generalizado e universalizado tender a ser o terror, corremos o risco de nos habituarmos a ele, de banalizarmos (a “banalidade do mal”) o terror.
Desse risco, decorrem vários outros. Um destes já aí está (politicamente) patente. Aproveitando a tal “polivalência” terrorífica, por ódio ao terror, tendemos a responder ao terror com o terror.
Mas um outro risco, talvez ainda mais grave, é o de, consciente (há quem saiba o que faz neste domínio…) ou inconscientemente, tendermos a passar do ódio ao terror não apenas ao terror pelo (para) o amor (como, “alegadamente”, neste caso de Chipre) mas, por mais aterrorizante que isso seja, para o amor ao terror.
Contra este risco, só haverá um antídoto, uma prevenção: o amor ao (pelo) amor.
Mas, cada vez mais, até parece que é este preventivo antídoto que … (também) nos aterroriza.
João Fraga de Oliveira, Sta Cruz da Trapa
Burocracia
No Alentejo há uma terra de nome Crato. Em consonância com outros topónimos, como serra de Ossa, a origem da palavra é, quase seguramente, grega. Kratos, em grego, significa força, poder, domínio, império.
Ora a palavra composta em que o segundo elemento é -cracia significa o domínio do que a primeira palavra expressa (p.e. democracia - poder do povo).
Mas por vezes as palavras, quando não sabemos as origens delas, enganam-nos. Assim, BUROCRACIA não é o domínio dos BURROS, como aliás é óbvio: a palavra BURO só tem um R. Deriva de BUREAU, palavra francesa para gabinete.
Os burocratas não são burros ao ponto de irem auscultar doentes, ou dançar à chuva num estádio, ou entrevistar um líder político impopular na sua própria terra. Eles mandam os outros ir, ou colocam aparelhos para controlar a hora de chegada e saída. Tudo de forma asséptica.
A burocracia é necessária. O excesso dela é inimigo da economia, do desporto, da liberdade.
Antides Santo, Leiria