Cartas à Directora

Eutanásia ou cuidados paliativos de qualidade?

Muito se tem falado nos últimos dias da legalização da eutanásia e até houve um programa de debate na televisão esta semana sobre o assunto. De um lado os defensores da liberdade de cada um de, em circunstâncias extremas, pedir a sua morte assistida medicamente; do outro lado os que acham que o direito à vida se sobrepõe em todas as circunstâncias. Não tomo partido, de momento, por ninguém porque ainda não vi o assunto abordado seriamente por pessoas desapaixonadas ideologicamente que me possam esclarecer o teor do projeto de lei a ser apresentado futuramente na Assembleia da República ou o texto da pergunta de um possível referendo. Limito-me a constatar que por dia, neste como em qualquer outro país, há pessoas que morrem por decisão conjunta dos médicos e dos familiares. Isto passa-se nas Unidades de Cuidados Intensivos ou Coronários e nas enfermarias de cuidados paliativos de várias instituições. Não vale a pena esconder o sol com a peneira. Por outro lado no testamento vital, que qualquer um de nós pode fazer, pode ficar explicito que em certas situações não permitimos o uso de técnicas de reanimação ou de "encarniçamento" terapêutico que leve a um prolongamento da nossa vida. Se isto já existe, falar em eutanásia neste momento parece-me desnecessário e só leva à confusão de um povo mal informado e que não sabe o que decidir.

Não percebo também certas posições de religiosos e de beatas televisivas - para quem a vida não deveria acabar neste mundo - que manifestam uma preocupação demasiadamente terrena sobre o assunto. Para quem acredita que não somos só um corpo, a vida não acaba na morte, apenas se transforma noutras dimensões e, como partículas vivas do Universo, seguiremos os caminhos fruto das nossas decisões, tomadas aqui ou em qualquer outro lado.

Para quem não acredita nisto, um sofrimento exagerado e sem perspetivas de melhoria não faz qualquer sentido. Sei que nem tudo é, assim, a preto e branco e por isso há casos de gente jovem com doenças degenerativas ou de idosos com Alzheimer, para dar dois exemplos, que levantam muita polémica e decisões muito difíceis de tomar. Num país em que os cuidados paliativos são oferecidos a uma minoria de casos e nem sempre funcionam bem, não se justifica falar para já em eutanásia. Que este governo abra novos e bons centros de cuidados paliativos é o que se deve exigir e depois veremos se a eutanásia se torna ou não necessária.

José Carlos Palha, Gaia

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