Cartas à Directora

Morreu a Rosa com nome

Morreu um Pensador. Morreu na noite em que muitos de nós, anónimos banais, fazem a mala para partir para irrelevantes fins-de-semana. O escritor e filósofo, figura humana de superior estatura e de relevo traço, só poderia ter nascido em Alexandria. Não na Alexandria dos faraós, mas aquela que tem raízes no Norte de Itália, lá onde as flores ganham mais cor. Mas bem que ele, merecia ter sido dado à luz e ter sido tratado como um Imperador do Egipto. Sê-lo-á. Umberto Eco, já tinha deixado também a sua mala de viagem feita, mas para seguir de vez para a sua "Ilha do Dia Anterior", logo que a sua formosa Rosa murchasse ou deixasse de irradiar o "eco" implacável e perfurante, que atravessou Continentes doentes e habitados tanto pelo bem e pelo mal, e por Desertos de moralidade. Morreu um Filósofo, como ele se considerava acima de tudo, e agora todas as suas teorias vão passar para além do "Número Zero", e vão servir de cartilha a todos os homens de boa vontade. Num "Cemitério de Praga" ou de Itália com certeza, ele irá repousar e continuar a reflectir, junto de outras almas históricas e elevadas nas artes. O que é certo, é que não mais escreverá mais "romances aos fins-de-semana", como ele disse um dia que era quando gostava de os criar, pétala a pétala. Que repouse junto à chama da Paz na companhia da sua estimada e “Misteriosa Rainha", como ele soube ser, Rei – ainda!

Joaquim A. Moura, Penafiel

 

Fez-se Eco na Balada de um batráquio

Umberto Eco, de acordo com a mais elementar condição humana de um qualquer simples mortal, e para lá desta redutora dimensão, fez-se Eco de toda a sua grande obra filosófica que agora nos legou para todo o sempre, projectando-a para lá dos nossos curtos horizontes, enquanto o porvir dela bem se encarregará.

Entretanto, uma jovem cineasta portuguesa – Leonor Teles – ganhou com todo o merecimento cinematográfico o Urso de Ouro, com a curta-metragem ‘Balada de um batráquio’.

Nunca um batráquio, no caso vertente um ‘sapo’, assim esteve em tal pedestal. E eu, tosco pensador, metido na minha pobre toca, só espero que ‘atingidos’ e ‘defendidos’ no ‘celulóide’ saibam coexistir na realidade, sem que as farpas aleijem as partes.

José Amaral, VNGaia

 

Morte assistida: são os próprios que a solicitam!

Ainda a "procissão vai no adro" e já se adivinha o quanto vai ser aceso o debate sobre a "morte assistida". Basta ler a carta de Américo Marcelino (AM), hoje no PÚBLICO, para ver isso. Só que, podendo ser "quente", parece-me que a linguagem utilizada, "guerreira e pretensamente intimidatória", não ajuda nada, pois apodar de "desertores" (!) os que solicitam ajuda para morrer dignamente, trazer à colação o "Criador" (sic) para respaldar decisões individuais e livres e utilizar palavras como "carrasco", "disparo de gatilho" e outras, é querer marcar as pedras do caminho e não discutir de igual para igual o tema importante que está em discussão. É que, senhores do não, nunca se esqueçam do cerne do problema: é o próprio que vai morrer que solicitou a assistência nesse desiderato livre!

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

 

Sugerir correcção
Comentar