Cartas à Directora
O Leilão
...Eu ainda fui dos que me desloquei ao leilão dos perdidos e achados levado a efeito pela PSP, mas devo confessar que embora a multidão presente se sinta atraída pelo que lá pode encontrar, eu saí de lá com as mãos a abanar. Não vislumbrei artigo em bom estado, boneco ministerial, banco seguro e viável, administrador sério, deputado responsável, orçamento com princípio meio e fim, um simples pin nacional que tivesse direito a ter lugar na minha lapela. A confusão gerada também não ajudava a persecrutar como se impõem num leilão desta natureza, virado para bolsas em austeridade. Experimentei ainda uns óculos de marca para espreitar através deles se via por lá um ex-governante, que agora reprova tudo quanto o actual faz, e outro que licitou em tempos um monte de fotocópias a bom preço e à mistura com assuntos ligados a compras que meteram água. de tal modo que o país se encontra hoje submerso. Em dívidas principalmente. Normas de compra e venda entre promíscuos, offshores bem montados, valores financeiros bem tratados, e nem moedas de ouro que tenham escapado a algum paraíso fiscal, e lá depositadas por gente que costuma integrar e comprar os grandes e secretos negócios. Nada nem lembrança que fizesse recordar mais tarde o BPN, SLN, BPP, BES. Banif, EFISA, Technoforma, um Diploma académico, etc. Nem um Simpson com a bandeira hasteada do PàF. O que havia por lá, encontra-se em qualquer feira e em melhor estado, mesmo se contrafeito. E não é difícil dar com ex-líderes desses mercados em qualquer feira de caca perto de si e em campanha já. Mas tralha quase tudo, foi o que eu vi mais uma vez, na sequência do que temos vindo a ver e a sentir. Tralha que nunca foi reclamada. Vou esperar por outro evento semelhante até encontrar um pack com sortido que me satisfaça!
Joaquim A. Moura, Penafiel
Eutanásia versus Direito à Vida
Sobre Eutanásia não possuo formação e, sobretudo, informação para opinar sobre esta delicada matéria. Todavia, sobre o direito à vida e às formas de a manter em liberdade e com dignidade, informação e formação tenho-a colhido ao longo de uma existência já relativamente longa. Assim a minha perplexidade perante tanta hipocrisia de opinantes com direito de antena. O direito à vida começa pelas condições que Estado e governos que o vão administrando, muitas vezes danosamente, proporcionam aos seus cidadãos desde a infância até á morte passando, como é evidente, pela idade da reforma, quando deixam de poder produzir a riqueza, pagar impostos e necessitam de outras atenções e cuidados a que , como seres humanos e com direitos perpétuos e inalienáveis, devem usufruir sem restrições. Só que tantos, que nunca ouvi, nem li, defenderem os direitos de tanta criança portuguesa vivendo em escassez permanente de comida e de acessos a cuidados médicos e escolares como não se via desde os tempos do fascismo à portuguesa. E são dezenas, talvez centenas de milhares.
Calaram-se e calam-se os vendilhões. Tirando alguns conselhos para não comerem bife todos os dias, recolheram-se à piedosa caridadezinha, tão oportuna e útil porque dominadora de mentalidades, de vontades, de consciências. Um verdadeiro ópio. Decência urge neste país.
João Eduardo Coutinho Duarte, Lisboa