Cartas à Directora
Artes. Ensino. Futuro
Numa das últimas intervenções do Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e a propósito das alterações da avaliação dos alunos no ensino básico; disse que as artes, no ensino, seriam uma área prioritária. Estou totalmente de acordo. Pois, agora, apesar de fazerem parte do currículo do nosso ensino básico, as artes da forma que estão e são vistas por todos, não passam de uma espécie de cosmética de salão. No ensino das artes, para além da sua história, a sua expressão, pode ser mais livre ou mais rigorosa, com mais imaginação/criatividade ou mais processual/metodológica. O ensino básico começa no 1º ano de escolaridade e termina no 9º. Entre estes anos existem três ciclos. Naturalmente, o ensino das artes, tal como outro qualquer, para se justificar no nosso sistema, tem de sentir-se a sua evolução, do 1º ao 9º ano; tal como na evolução natural das técnicas e sua representação, não podemos ficar pela idade das cavernas, onde as paredes eram o suporte por excelência. Assim, espera-se que seja realmente efetiva a preocupação do novo ME. A acontecer, teremos uma formação de alunos e professores, diferentes, no 1º, 2º e 3º ciclos. Então, desta forma, teremos muito mais alunos a escolher de verdade e com consciência, a área das artes no secundário e logo no ensino superior.
Gens Ramos, Porto
Uma questão de perfume
Todos os governos tomam medidas impopulares, e o que actualmente ocupa as cadeiras do Poder pátrio não vai fugir à regra. Aliás, são já visíveis falhas em certas promessas eleitorais, e ninguém duvide de que, no futuro, veremos muitas mais, nem que seja por força da selvática pressão dos nossos “primos” de Bruxelas e das agências de rating. Se o apoio que a esquerda com ele negociou vai resistir, isso é questão que, de momento, sem dotes adivinhatórios, não podemos saber. Contudo, pelo semblante dos governantes, quando falam dessas “inevitabilidades”, julgo captar-lhes a mensagem subliminar de que as decisões maléficas são tomadas a contragosto e de que lutaram duramente para que não nos fossem impostas. Não resisto a fazer a comparação com os ministros do Governo PSD/CDS que, assim que vinha “bordoada”, achavam por bem anunciá-la com uma expressão facial que não conseguia esconder o seu lúgubre pensamento interior: “ainda devia ser pior, que vocês bem o merecem!”. Para (má) memória futura, de que nunca quererei esquecer-me, fica a lapidar frase do “ir para além da troika”. Seria por maldade que actuavam assim esses governantes? Creio que não. Apenas encarnavam servilmente os interesses de algumas élites que lhes inspiram uma “certa” ideologia e lhes impõem as medidas táctico-estratégicas para a implementarem. No nosso futuro próximo, as coisas poderão não ser muito melhores mas, felizmente, o perfume, até ver, tem mais fragrância.
José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia