Cartas à Directora
Um país adiado
Andam para aí uns senhores comentadores muito entretidos a discutir as virtualidades e as artes de prestidigitação do doutor António Costa e a fogosidade das doutoras Catarina e Mariana. Aguardam, por outro lado, que o magnífico Marcelo, por artes mágicas, resolva todos os problemas. Acontece porém que sem trabalho sério e diário nas escolas, nos campos, nas empresas e nas universidades não sairemos da cepa torta. Persiste uma organização de trabalho deficiente, uns agitadores de pacotilha e uma fraca produção em todos esses campos. Há, de facto, ilustres exceções, mas como é costume dizer as exceções não confirmam as regras. País pequeno e à deriva, temos como âncora benéfica as instituições europeias, que maltratamos mas que nos dão regras claras e óbvias aceites pela generalidade dos outros países. Temos de atingir metas elevadas e audaciosas que colmatem o atraso que temos da generalidade dos nossos parceiros europeus. Só com trabalho sério e sem facilitismos se fizeram as grandes epopeias nacionais, desde a independência, à reconquista árabe, aos descobrimentos, e ao auge do pensamento português nos séculos XVI e XVII, desde a matemática, à astronomia, à navegação, à botânica, à medicina, e mesmo à filosofia.
Os autos de Gil Vicente já estigmatizavam os usurários, os ladrões, os ociosos e os fidalgos que pouco faziam e oneravam o erário público. Camões, uma das maiores figuras da humanidade, aponta a cobiça, o desprezo pela justiça e a ganância como os fatores da decadência que ele já presenciava nesse oriente onde fomos criadores e expoentes da lusitanidade.
Sem governo centrado nas reais necessidades do país e sem uma assembleia responsável que prepare a médio prazo o nosso futuro, desde o ordenamento do território a uma nova política agrária e de pescas e um estado leve mas eficiente, não será possível melhorar a vida dos portugueses, baixar os impostos e dar novo "elan" à política de emprego, à proteção da velhice e à promocão da saúde pública que continua negligenciada.
Luciano Ravara, professor jubilado da Faculdade de Medicina e ex-secretário geral do Movimento Europeu
Dormir com os olhos abertos
O esboço do Orçamento do Estado para 2016 está no fio de várias navalhas. Mário Centeno e António Costa jogam à cabra cega com os mercados financeiros. Diminuir o défice e criar emprego não é tarefa fácil para os dois aprendizes de socorrismo, mais perto da espada do que da parede. A emergência financeira é um risco imediato. É urgente relação empática entre Centeno e os parceiros da Troika. António Costa fala muito bem, enquanto Centeno precisa de um aritmómetro. Mário Centeno não leu a Constituição e António Costa não conhece pormenorizadamente os acordos com a Troika. Quem paga as facturas da soma das incompetências da governação política dos últimos 40 anos, são os contribuintes! Os barões de Bruxelas têm onde buscar dinheiro. É uma questão de tempo e paciência: os funcionários públicos são carne para todos os canhões. De resto, quem tem Carlos Costa como governador do Bando de Portugal tem centenas de razões para dormir com os olhos bem abertos!
Ademar Costa, Póvoa de Varzim