Cartas à Directora
Direita e esquerda, conceitos esvaziados
Com a globalização, que tem sido mais económica e financeira que política e ideológica, os conceitos de direita e de esquerda que tão bem se defenderam entre os anos 50 e 70 do século XX, hoje, estão definhados.
E, usa-se o termo mais para denegrir o outro quando se sabe que ele/ela pensa de forma diferente de nós, mas não se vai ao cerne da questão, dado que “isso” dá muito trabalho e muitos nem sabem do que se trata. Colam umas figuras ou uns figurões à direita e à esquerda e está feito.
Talvez, modernamente, tenhamos que nos deixar de slogans e ir ao “passado não tão longínquo”, repescar o conteúdo de termos, reformulá-los aos dias de hoje e debatê-los com lealdade, transparência e menos agressividade.
A “direita” sempre defendeu mais o indivíduo, a nação, a soberania, menos Estado, menos impostos, menos distribuição de rendimentos, mais ricos, mais privado e menos público, menor regulação. Por contraponto a esquerda não comunista, dado que essa é estranhamente diferente, defendeu, e bem, o social, o colectivo, o global e solidário, mais Estado, mais impostos e mais distribuição de rendimentos, mais público no fundamental, mais liberdades e mais regulação.
Tanto direita como esquerda, sempre foram e são a favor da propriedade privada, quer de imóveis quer de meios de produção, de lucro e rendimento. Claro que a direita sai excessivamente do Estado, entregando tudo aos privados, e a esquerda tenta, e bem, conservar e gerir não para o lucro tudo o que seja de utilidade pública, e tudo que possa gerar monopólios privados, mas proclama em simultâneo a propriedade privada.
A direita é por norma contra o aborto, o testamento vital, a morte assistida, ao contrário da esquerda, que defende estas posições.
Hoje, estamos todos um pouco disfuncionais também nestas áreas, nestas definições, e na aplicação do que elas ao tempo de hoje, podem ser e conter.
E deveríamos “gastar” todos, muito mais do nosso tempo “com isto” do que com banalidades, o disse-que-disse-mas-afinal-não-disse, com a maledicência, com reality show, com “coisas” muito superficiais, muito passageiras, e que não nos ajudam a ter futuro. Será possível? (…)
Augusto Küttner de Magalhães, Porto
Os livros
“Está a morrer uma geração que tinha muitos livros, pequenas e médias bibliotecas, e a geração dos seus filhos e netos não sabe o que há-de fazer com aquilo que herda”. Pacheco Pereira, em “O tempo das Bibliotecas Está a Acabar” (revista Sábado), desfolha as razões que levam as pessoas a lerem menos, concluindo que a culpa não é das novas tecnologias, mas da sociedade. O autor de Crónicas dos Dias do Lixo lembra que “a favor dos livros jogam as nossas limitações físicas e psicológicas”. Uma casa sem livros é como um jardim sem flores, dizia a minha professora da 4.ª classe. Neste Natal ofereça livros! Não foi por acaso que Manuel António Pina escreveu: “é isto um livro/esta espécie de coração (o nosso coração)/ dizendo “eu” entre nós e nós”.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim