As cerejas da verdade

As cerejas portuguesas que todos os anos são maravilhosas sofreram este ano uma perseguição criminosamente pluvial.

Este mês de Maio foi um roubo. Hoje celebra-se em Resende, no Largo da Feira, o segundo e último dia do décimo-quinto Festival da Cereja.

Noutras terras ainda mais azaradas, por causa das chuvas assassinas de Abril, os festivais da cereja têm sido injusta e imprevisivelmente humilhados por não terem cerejas para festejar.

As cerejas portuguesas que todos os anos são maravilhosas sofreram este ano uma perseguição criminosamente pluvial.

As cerejas não mentem. O IPMA (o Instituto Português do Mar e da Atmosfera que irritantemente não tem maiúsculas online, nem sequer no acrónimo que é, coerentemente ipma, com o m, ondulado e marítimo, em itálico) disse que tivemos um dos Abris mais quentes de sempre. Ah sim?

Mas as cerejas não mentem. Já provei as cerejas de 2016. São moles, aguadas e caras. São as piores cerejas de Maio desde que nasci. Ao contrário das cerejas de sempre, que se puxam uma à outra, por serem "como as cerejas", as cerejas de Maio desafiaram-me a comer mais de cinco, na esperança louca que a sexta valesse a pena.

A fruta do ano passado – viva 2015! – foi a melhor desde que me lembro. Havia muitas cerejas, muitos morangos e muitos pêssegos,  todos fáceis, espontâneos e perfeitos.

A Primavera de 2016 tem sido um pesadelo vivido não só dia a dia como de manhã para manhã e de tarde para tarde. As cerejas não mentem. Temos o tempo na boca. A uva e o vinho casaram-se com a mesma incerteza e o mesmo respeito.

2016 já é um ano para esquecer.

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