Caixa diz que clientes com dificuldades em usar cartões serão apoiados
Paulo Macedo, ouvido no Parlamento, garante que não encerrará balcões em 2025 e 2026, mas não revelou número de agências transformadas em Noma Smart, sem serviço presencial de tesouraria.
Depois de acabar com o serviço de tesouraria em mais de seis dezenas de agências, maioritariamente localizadas em zonas do interior e ilhas, Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), garantiu nesta terça-feira, 14 de Janeiro, que nas agências onde foi suprimida a possibilidade de levantar ou fazer depósitos aos balcões os clientes com dificuldade em usar cartões bancários serão apoiados por um funcionário. Em causa está a transformação das agências tradicionais da CGD em Noma Smart, pequenos balcões sem serviço de tesouraria, e um grande número delas só com um ou dois trabalhadores.
Paulo Macedo está a ser ouvido na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP), na sequência da redução de serviços no interior e ilhas, limitando a realização de levantamento e depósitos apenas a caixas automáticas, o que obriga a ter e a saber usar cartões bancários, como o PÚBLICO noticiou. Esta redução de serviços tem gerado a contestação dos autarcas, mas também dos representantes dos trabalhadores.
"Não vamos desguarnecer a inclusão física, mas a prioridade é dar meios às pessoas de inclusão digital”, afirmou Paulo Macedo, na audição pedida pelo Partido Comunista Português, a que se associou o Partido Socialista, sem avançar com o número de agências transformadas ou a transformar em Noma Smart, bem como as que têm apenas um funcionário.
“Não haverá uma agência da Caixa em que não haverá um funcionário para possibilitar pagar manualmente uma pensão ou o que for, obviamente a título excepcional, porque o que se quer é que as pessoas se digitalizem”, assegurou.
No entanto, em resposta às perguntas dos deputados, o gestor disse ainda que em 2025 e 2026 não haverá encerramento de agências da Caixa e que na instituição "o serviço público e o de proximidade serão mantidos", lembrando que está presente em 99,4% dos concelhos. Já o Crédito Agrícola não está presente em 9% ou 10% dos concelhos, embora tenha um número mais elevado de agências, e os restantes bancos têm presenças próximas dos 50%.
Ainda sobre o impacto do fim do serviço de tesouraria, o gestor referiu que "foi feito um levantamento, agência a agência, das pessoas que são iletradas, que são invisuais", e para essas pessoas a Caixa "vai ter o apoio específico". E ainda que, em relação a estas, "dependendo da agência, de 40% a 70% têm meios de pagamento", e que "os iletrados na Caixa andarão entre 1% e os 3% do Censo nacional".
Lucros anuais na próxima década
Sobre a redução do número de pessoas no banco público, Paulo Macedo referiu que está a decorrer em toda a banca, lembrando que na Caixa nunca houve despedimentos colectivos, ao contrário de outros, e que cerca de 500 trabalhadores aproveitam anualmente "as condições sem paralelo no mercado para se reformarem ou pré-reformarem aos 55 anos".
Paralelamente, garante que o banco tem realizado um forte investimento em modernização dos serviços, que entre 2023 e 2025 ascenderá "a meio bilião de euros", investimento este que a instituição, se não apresentasse os resultados que tem apresentado, não conseguiria realizar.
Ainda a propósito dos lucros "recorde" que o banco público tem apresentado — que, recorde-se, se aproximaram de 1,4 mil milhões de euros nos primeiros nove meses do ano passado —, o presidente da CGD referiu que apenas "com resultados positivos se fortalece o sistema", e que ainda não é possível "ser um banco relevante com maus rácios financeiros".
Afastou ainda a ideia de que os lucros apresentados são de curto prazo, assegurando que, se não se verificarem "alterações geopolíticas", a instituição vai dar lucro anuais nos próximos 10 anos.
E voltou a lembrar que, se a Caixa estivesse a dar lucro entre 2011 a 2016, "se calhar, não tinha sido comprado por um euro o Banif e o Banco Popular", que acabaram vendidos a um banco espanhol.
Antes de Paulo Macedo, os deputados da COFAP ouviram a comissão de trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD, que denunciaram um conjunto de práticas que põem em causa a prestação do serviço público da instituição.