Percepções

Ao governar pelas “percepções” e não pela realidade, o Governo não faz outra coisa senão fortalecer as “percepções”, ou seja dar razão ao Chega.

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Se tivesse que escolher a palavra do ano, essa palavra seria “percepções”. No plural, em Portugal e na política. Contrariamente ao que é comum, a palavra é um pouco mais sofisticada, ou dito de outro modo, intelectual, do que é costume na linguagem muito pobre das redes sociais e na habitual desertificação do pensamento. No entanto, ela está conforme com um certo psicologismo vulgar que tem outras ramificações no discurso comum e que é muito bem retratado nos reality shows que se sucederam ao Big Brother, como a Casa dos Segredos. As conversas dos concorrentes e o comentário a essas conversas depois de cada “cena” por parte de um conjunto de homens e mulheres vindos do nosso pobre jetset, que aliás são completamente idênticos na cultura, vocabulário e “mundo”, deviam ser estudadas na academia como exemplo de como o país está mergulhado numa mistura de ficção emocional, coreografia afectiva e desertificação cultural, ou seja ignorância. É também por aqui que se chega às “percepções”, a uma identidade feita de sensações imediatas, de emoções sem pensamento, de ideias sobre a realidade feitas como se fossem “memes”, entre o engraçado e o convulsivo.

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