Companhia aérea diz que queda do avião no Cazaquistão se deveu a “interferência externa”
Azerbaijan Airlines diz que voo sofreu “interferência externa técnica e física” e suspendeu voos para sete cidades russas. Passageiros sobreviventes falam em estrondos antes da queda.
A companhia aérea Azerbaijan Airlines, a que pertencia o avião que caiu no Cazaquistão enquanto voava entre a capital azeri de Bacu e a cidade de Grozni, na Tchetchénia, afirmou esta sexta-feira que a queda do avião se deveu a “interferência externa técnica e física”. Na declaração, citada pela Reuters, a companhia aérea anunciou que iria suspender as ligações aéreas para várias cidades russas no rescaldo do desastre.
Ao todo, segundo a imprensa russa, estão incluídos voos para sete cidades, nomeadamente as cidades de Sochi, Mineralnye Vody, Volgogrado, Ufa e Samara, mantendo ainda assim as ligações para grandes cidades russas como São Petersburgo e Moscovo.
De acordo com a agência de notícias russa TASS, um avião da companhia aérea azeri com destino a Sochi foi esta sexta-feira obrigado a mudar de rota, dando meia volta e voltando para o aeroporto de Bacu, capital azeri de onde tinha partido.
As suspeitas sobre o que terá causado a queda perto de Aktau, no Sudoeste do Cazaquistão, do Embraer 190 que fazia o voo J2-8243 da Azerbaijan Airlines têm vindo a aumentar. Na quinta-feira, quatro fontes azeris disseram à Reuters que o avião terá sido derrubado por um míssil russo.
Esta sexta-feira, os Estados Unidos admitiram também a possibilidade de o avião ter sido atingido por um míssil russo. “Vimos alguns indícios iniciais que apontam certamente para a possibilidade de este avião ter sido derrubado pelos sistemas de defesa antiaérea russos”, disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.
“Há uma investigação em curso neste momento”, envolvendo o Cazaquistão e o Azerbaijão, acrescentou Kirby. “Oferecemos a nossa assistência a essa investigação, caso seja necessária”.
Um relato de um passageiro que falou à televisão russa refere a explosão da fuselagem antes de o avião cair. À Reuters, Subhonkul Rakhimov, outro dos passageiros do avião, contou que ouviu um forte estrondo quando o avião se preparava para aterrar em Grozni e que pensou que “o avião ia desfazer-se”.
Depois do estrondo, recordou, o avião passou a mover-se “como se estivesse bêbado”. “Já não era o mesmo avião”, disse ainda Rakhimov à Reuters.
À estação de televisão russa RT, Rakhimov contou que o colete salva-vidas na sua cadeira tinha sido danificado por estilhaços do avião.
“Algures entre as minhas pernas, um estilhaço voou e atravessou totalmente o colete salva-vidas”, disse ainda.
Outro dos passageiros contou à Reuters que ouviu um primeiro estrondo, seguido de um segundo estrondo. A queda do avião causou a morte de 38 das 67 pessoas que iam a bordo.
O Kremlin voltou a não comentar a queda do avião quando questionado, apontando para a investigação aérea ainda em curso.
O departamento russo para o transporte aéreo, Rosaviatsia, adiantou que o voo tinha decidido mudar de rota face ao denso nevoeiro que se verificava perto de Grozni naquela altura e que tinha sido proposto em alternativa vários aeroportos onde poderia aterrar, antes de escolher o aeroporto de Aktau.
De acordo com o chefe do Rosaviatsia, Dmitry Yadrov, estava a acontecer um ataque ucraniano com drones na zona de Grozni ao mesmo tempo que o avião se aproximava do aeroporto da cidade.
"Nessa altura, os drones de combate ucranianos estavam a levar a cabo ataques terroristas contra infra-estruturas civis nas cidades de Grozni e Vladikavkaz", afirmou Yadrov, numa declaração por vídeo, em que afirmou que não havia visibilidade a uma altitude de 500 metros, dado o nevoeiro.
O site de observação de voos Flightradar24.com referiu na quinta-feira que o avião sofreu “interferências significativas no GPS”, deixando de emitir dados de localização por GPS durante mais de dez minutos, situação que pode ter resultado das interferências comummente usadas pela Rússia para se defender de ataques de drones vindos da Ucrânia.
Para além da Azerbaijan Airlines, também a companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos FlyDubai anunciou que ia suspender voos para dois aeroportos no Sul da Rússia, o de Sochi e o de Mineralnie Vody.
No passado, outros aviões comerciais foram já derrubados ao atravessarem zonas em conflito. Em 2014, o voo MH17 da Malaysia Airlines foi abatido por forças separatistas pró-russas enquanto atravessava a zona ucraniana do Donbass, que tinha entrado em guerra antes nesse ano.
Já em 2020, um avião da Ukranian International Airlines foi abatido por forças da Guarda Revolucionária iraniana, numa altura em que a tensão entre os Estados Unidos e o Irão estava em alta devido ao assassinato de Qasem Soleimani por um ataque de um drone norte-americano e subsequente resposta iraniana com bombardeamentos a bases no Iraque da coligação militar liderada pelos EUA.