A Avenida da Liberdade, em Lisboa, é a meca da relojoaria de luxo e há sempre novidades a efervescer. A tempo do Natal, há uma nova boutique da IWC para explorar com peças exclusivas no mercado português, enquanto a Cartier se mostra renovada, incluindo não só as criações de relojoaria, mas também de alta joalharia. Já na Vacheron Constantin, o novo destaque não é um relógio, mas uma peça de arte de assinatura portuguesa inspirada no tempo.
Exposição na Vacheron Constantin
O português David Reis Pinto foi desafiado a “ligar arte e geometria” e o resultado está exposto na boutique da Vacheron Constantin, em Lisboa. O resultado é uma escultura arquitectónica que “materializa a consciência do tempo” num jogo entre as premissas da geometria e da cor, evocando também a precisão da alta relojoaria, explica o artista ao PÚBLICO. “O conceito de consciência é muito amplo, mas pareceu-nos bem humanizar o tempo”, resume.
Para elaborar o projecto, integrado nas celebrações do tema anual Geometry To Artistry da manufactura relojoeira, David Reis Pinto e a galeria Coletivo 284 convidaram o arquitecto Miguel Sousa, da Ambits, que ajudou a construir a escultura, como se de uma maqueta se tratasse. A peça está dividida em três corpos circulares feitos a partir de camadas finas de acrílico cortado a laser que permitem ver através da escultura azul — a cor é emblemática na Vacheron Constantin, que é a manufactura suíça mais antiga, em funcionamento desde 1755. “Cada camada pode ser emoção e interpretação. Estamos em movimento em torno da peça”, descreve David Reis Pinto.
A peça está colocada no centro do piso inferior da boutique, enquadrada num cubo metálico, que “se associa à forma construída de Leonardo da Vinci” com o homem ao centro. O fundo do cubo é espelhado e estão gravados os ponteiros do relógio, com os suportes da peça a corresponderem às 12h, 3h, 6h e 9h. “A Vacheron tem o orgulho de ter o relógio mais complicado do mundo. Chegarmos a este conceito é um trocadilho porque estamos a propor criar uma nova complicação: a consciência”, declara o artista.
Além da peça central, a exposição integra ainda sete desenhos do processo criativo, bem como duas pinturas a óleo que reflectem a ligação entre a geometria e a relojoaria num traço quase surrealista que mostra as rodas dos calibres. As montras da loja inspiram-se ainda na obra principal com várias camadas de acrílico que David Reis Pinto diz serem inspiradas no movimento dos relógios.
A exposição fica patente até 31 de Dezembro e David Reis Pinto espera que o seu trabalho possa vir a integrar um futuro museu da Vacheron Constantin, em Genebra.
Primeira boutique IWC
É mais uma estreia para a Avenida da Liberdade. A IWC Schaffhausen acaba de abrir a primeira loja em Portugal, na porta 117 da avenida onde está grande parte das marcas de luxo. Com investimento do grupo Tempus (da Boutique dos Relógios), “a nova boutique reflecte o compromisso da marca em oferecer aos clientes uma experiência única, combinando sofisticação, exclusividade e design contemporâneo”, revela o grupo em comunicado.
A loja abriu portas no passado dia 12 e replica o conceito internacional das boutiques IWC — apesar de o espaço ter apenas 32 metros quadrados. Ainda que a fórmula para o design do espaço tenha vindo da Suíça, numa preocupação de valorizar o mercado português, foi convidada a ilustradora portuense Camila Nogueira, conhecida por desenhar mundos imaginários, para criar a peça central da boutique, inspirada pelo legado da IWC.
Mas não é só pela arte que a nova loja se liga à tradição portuguesa — o modelo mais conhecido da marca é o Portugieser, desenvolvido para dois mercadores portugueses em 1930. É a primeira vez que os portugueses têm oportunidade de ter acesso à colecção exclusiva das boutiques com edições limitadas do Portugieser em azul-Horizon, apresentadas na edição deste ano da feira Watches&Wonders. Em destaque, está o vencedor do Grande Prémio de Relojoaria de Genebra, o Portugieser com calendário eterno.
A renovada Cartier
Há mais de uma década que a Cartier mora numa das esquinas mais requisitadas da Avenida da Liberdade, mas as novidades chegam agora à porta número 240. Nos últimos seis meses, a loja esteve fechada para uma remodelação total com assinatura dos arquitectos Bruno Moinard e Claire Bétaille, que cruzaram o património Cartier com a tradição portuguesa. “O novo espaço Cartier presta homenagem à rica herança cultural de Portugal através da visão contemporânea de artistas locais e vai tornar-se um ponto de encontro para todos os lisboetas e para os visitantes da cidade”, declara o director ibérico de marca, Nicolas Helly, em comunicado.
A ligação ao país começa, desde logo, pelos motivos marítimos que se estendem pelo espaço. O padrão do chão quer reflectir as ondas do mar, tal como o vistoso vitral que é uma espécie de cúpula na antecâmara onde estão as peças da colecção Panthère, que combinam com duas vistosas panteras em madeira ilustradas na parede principal. Mantendo o tema, no espaço dedicado às peças de noiva, há uma têxtil da artista espanhola Véronique de Soultrait, com vários entrançados em corda para homenagear “os navegadores portugueses”.
Mas também há artistas portugueses convidados a decorar a boutique, incluindo os artesãos dos bordados de Castelo Branco que colaboraram com o estúdio de design Casa do Passadiço. A tapeçaria mostra um jardim que também é mote para as colecções de joalharia Love, Trinity e Juste un Clou. Nesta zona, junto aos expositores dos relógios — estão disponíveis as principais colecções Santos, Panthère, Tank e Baignoire — há ainda uma peça da portuguesa Vanessa Barragão, que trabalha com desperdícios têxteis, inspirada pela natureza. É um contraste entre o luxo da relojoaria e o que possivelmente seria um resíduo.
Na sala da perfumaria e dos acessórios, o papel de parede imagina o jardim da Quinta da Regaleira, em Sintra, com motivos florais. Mas a visita só se completa onde se recebem os clientes mais exclusivos. É lá que está o painel desenhado pelo francês Cédric Peltier com os azulejos da Viúva Lamego. “Desenhei tudo no atelier em Paris e depois vim à Viúva Lamego para produzir com eles. Não os conhecia e foi impressionante”, confessa o pintor ao PÚBLICO. A peça retrata a paisagem lisboeta no tradicional azul e branco dos azulejos, mas conta ainda com uma enorme pantera dourada pintada à mão por Peltier. “Já fiz outras peças para a Cartier, mas esta foi a mais especial”, conclui.