Havia um plano de fuga de seis presos da cadeia da Coimbra. Foi descoberto no sábado
Direcção-geral confirma que foi detectada preparação para “hipotética tentativa de evasão”. PSP e PJ foram colocadas em alerta e reforçaram-se as equipas de guardas prisionais.
A descoberta de que estaria em preparação um plano de fuga por seis a sete presos do Estabelecimento Prisional de Coimbra deixou esta prisão em estado de alerta máximo na noite deste sábado. Para o estabelecimento foram chamadas duas equipas do grupo de intervenção da Guarda Prisional vindas da zona do Porto, as equipas de turno dos guardas prolongaram o trabalho várias horas, e a PSP de Coimbra montou um esquema de vigilância às instalações.
Questionada pelo PÚBLICO sobre a existência de uma denúncia de um plano de fuga envolvendo vários presos, a Direcção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) confirma que “foi detectada uma situação que poderia indiciar actos preparatórios para uma hipotética tentativa de evasão”. “Nestas circunstâncias foram tomadas as medidas de segurança e de articulação com órgãos de polícia criminal tidas por adequadas e insusceptíveis de partilha pública”, afirma ainda a assessoria do director-geral em resposta ao PÚBLICO, sem querer especificar quais os órgãos de polícia criminal destacados para o caso.
A DGRSP também não confirma que tenha havido uma denúncia e a quais autoridades, antes afirmando que esse plano preparatório da fuga terá sido detectado “no âmbito do trabalho quotidiano, e permanente, de vigilância e de segurança”. E vinca que, apesar da preparação do plano, não se verificou "qualquer tentativa de evasão" do Estabelecimento Prisional de Coimbra.
Às 19h deste sábado, a hora habitual do recolher dos detidos, em que os guardas prisionais fazem a passagem por todas as celas das várias alas para o fecho das instalações, foi feita a contagem e todos os presos estariam nas respectivas celas. A situação da preparação da fuga terá sido descoberta através de uma denúncia, mas que não especificaria muitos pormenores sobre o esquema da fuga além dos intervenientes.
Ainda que não seja fora do comum haver denúncias desta natureza, desta vez o caso foi considerado grave porque incluía nomes completos e números dos detidos, todos a cumprir penas longas, entre os sete e os 25 anos. E, de acordo com o pouco que a DGRSP admitiu na resposta sucinta ao PÚBLICO, terão sido detectadas provas.
Trata-se de detidos de nacionalidade brasileira, sendo que quatro deles partilham celas a pares, e dois estão em celas (também de duas pessoas) com outros presos. Há ainda a indicação de que haveria um sétimo detido envolvido no plano mas não há certezas quanto à sua identidade.
A denúncia, segundo fontes ouvidas pelo PÚBLICO terá sido feita à PSP (que ainda não respondeu às perguntas) e à prisão, e a informação foi transmitida à actual directora da prisão, que assumiu o cargo temporariamente depois de o anterior director, Orlando Carvalho, ter sido nomeado director-geral de Reinserção e Serviços Prisionais há cerca de um mês. Comunicada à hierarquia superior (que terá chegado, além do DGRSP, à ministra da Justiça), a denúncia foi também comunicada ao corpo da Guarda Prisional do EP de Coimbra para o reforço dos turnos e horários de prontidão dos guardas. Por exemplo, quem fez o serviço de dia de sábado já não saiu depois do fecho das instalações à hora do recolher, mas ficou até por volta das 22h, e o turno das 16h também se prolongou pela madrugada em vez de sair à meia-noite.
A prisão de Coimbra tem actualmente cerca de 560 presos, mas a capacidade original seria para cerca de 400. O estabelecimento situa-se dentro da cidade, entre os jardins da Sereia e o jardim botânico, perto de diversas instalações da Universidade de Coimbra.
Para uma população de 560 detidos, as noites são normalmente asseguradas por 14 guardas prisionais, mas também terá havido casos em que chegaram a ser apenas oito.
Depois da evasão da cadeia de Vale de Judeus, no início de Setembro, foi recolocada em cima da mesa a discussão sobre a falta de condições de segurança e vigilância em muitos estabelecimentos prisionais do país, incluindo Coimbra.
Apesar de a prisão de Coimbra manter as torres de vigilância e até serem usadas, o sistema de videovigilância de cerca de 280 câmaras será controlado por apenas um guarda prisional em turnos de quatro horas, o que é considerado escasso em termos de meios humanos e susceptível de potenciar falhas por falta de capacidade de uma só pessoa conseguir verificar com mais frequência tanta câmara. Além de que se teme que, em caso de problemas, como uma fuga, os guardas possam vir a ser responsabilizados (publicamente e disciplinarmente) como aconteceu com Vale de Judeus.