Denunciante do ChatGPT encontrado morto quatro meses depois de deixar a OpenAI

Suchir Balaji denunciou a OpenAI por usar dados protegidos com direitos de autor na construção do ChatGPT. Foi encontrado morto em San Francisco aos 26 anos. A polícia não desconfia de crime.

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As autoridades não encontraram quaisquer sinais de um crime no apartamento e acreditam que Suchir Balaji tirou a própria vida Suchir Balaji (X)
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Depois de um ano e meio a trabalhar nos bastidores do ChatGPT, Suchir Balaji já não estava totalmente convencido da bondade do projecto. Quando entrou na empresa, em 2020, pensava que a inteligência artificial podia ser "uma espécie de cientista" recrutada para "resolver problemas insolúveis, como curar doenças e parar o envelhecimento". Mas, ao longo dos quatro anos seguintes, viu acumularem-se os processos e as críticas ao funcionamento do ChatGPT. E começou a colocar tudo em causa.

Com as dúvidas agora a fervilharem na sua própria mente, não tinha outra opção senão abandonar a OpenAI: "Se acreditam no que eu acredito, têm de sair da empresa", defendeu numa entrevista ao The New York Times cedida em Outubro. Suchir Balaji demitiu-se em Agosto e tornou-se um denunciante. Quatro meses depois, a 26 de Novembro, foi encontrado morto no apartamento onde vivia na cidade norte-americana de San Francisco. Tinha 26 anos.

Suchir Balaji trabalhava no coração do ChatGPT: dedicou-se, durante um ano e meio, a recolher e organizar as gigantescas bases de dados que alimentariam o produto final do programa. Só no fim de 2022, já com o ChatGPT lançado, é que questionou a ética por detrás da utilização desses dados. "No início não sabia muito sobre direitos de autor ou fair use [uso legítimo]" — um conceito da lei norte-americana que se refere à utilização de material protegido para fins educacionais ou investigação, por exemplo.

Isso mesmo foi admitido pelo próprio denunciante na sua conta privada no X: "Quando tentei compreender melhor a questão", curioso com o conteúdo das acções judiciais movidas contra as empresas de inteligência artificial generativa, "acabei por chegar à conclusão de que o fair use parece ser uma defesa bastante implausível para muitos produtos". Em última análise, "podem criar substitutos que competem com os dados com que são treinados".

Foi o que Suchir Balaji explicou ao The New York Times — um jornal que ele próprio contactou para tornar mais públicas as suas preocupações, mas que também já tinha processado a OpenAI e a Microsoft por desconfiar que os seus artigos jornalísticos estavam a ser utilizados para alimentar chatbots como o ChatGPT. "O produto final deles não são cópias exactas dos dados iniciais, mas também não são fundamentalmente novos", explicou. Era por isso que, para o investigador,"este não é um modelo sustentável para o ecossistema da Internet como um todo".

Menos de dois meses passados da entrevista ao jornal norte-americano, a polícia de San Francisco dirigiu-se ao apartamento do investigador a pedido de pessoas próximas do denunciante, que não conseguiam entrar em contacto com ele. As autoridades não encontraram quaisquer sinais de crime no apartamento e acreditam que Suchir Balaji pôs termo à própria vida. A família já foi informada da morte.

Fonte oficial da OpenAI reagiu à morte do denunciante. "Estamos devastados por saber desta notícia incrivelmente triste e os nossos corações estão com os entes queridos de Suchir durante este período difícil", disse um porta-voz da empresa após ter sido contactado pelo Tech Crunch. Outros profissionais da área da inteligência artificial generativa também lamentaram a morte de Suchir Balaji em mensagens publicadas nas redes sociais.

"Esta é uma notícia incrivelmente triste. Suchir era gentil e atencioso. O seu discurso sobre IA e direitos autorais foi muito apreciado por muitas pessoas. Ele fará muita falta", considerou Ed Newton-Rex, director executivo da Fairly Trained, uma empresa que certifica outras quando utilizam inteligência artificial treinada com dados de forma ética.

Gary Marcus, um dos nomes mais sonantes no estudo da inteligência artificial, que se considera um "céptico" dos potenciais dessa tecnologia e quer regulá-la, diz ter falado com Suchir Balaji há seis semanas. Numa mensagem publicada no X, o cientista descreveu que o denunciante "queria tornar o mundo um lugar melhor" e o seu desaparecimento é, por isso, "trágico".

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