Israel bombardeia bases do Exército sírio e nega avanço na direcção de Damasco
Exército israelita garante que não avançou para além da zona desmilitarizada na fronteira mas assume “medidas limitadas e temporárias”.
Israel bombardeou bases do exército sírio nesta terça-feira, em ataques que diz terem como objectivo evitar que as armas caiam em mãos hostis, mas negou que as suas forças tenham avançado para a Síria para além de uma zona tampão na fronteira.
Desde que a fuga do Presidente Bashar al-Assad, no domingo, pôs fim a mais de cinco décadas de governo da sua família, a tropa israelita deslocou-se para uma zona desmilitarizada no interior da Síria, criada na sequência da guerra de 1973. Israel considera a incursão uma medida temporária para garantir a segurança da fronteira.
Três fontes de segurança disseram à Reuters que os israelitas tinham avançado para além da zona desmilitarizada. Uma fonte síria disse que tinham chegado à cidade de Qatana, vários quilómetros a leste da zona tampão e apenas a uma curta distância de carro do aeroporto de Damasco.
Mas um porta-voz militar israelita disse que as suas forças não tinham deixado a zona desmilitarizada.
“As notícias que circulam nos meios de comunicação social sobre o alegado avanço de tanques israelitas em direcção a Damasco são falsas. Os militares das IDF estão estacionados dentro da zona tampão, como já foi dito no passado”, afirmou um oficial do exército israelita.
Israel afirma que não está a procurar entrar em conflito com as novas autoridades da Síria, mas os seus aviões têm bombardeado alvos em todo o país nos últimos três dias para garantir que o equipamento militar sírio não caia em mãos hostis.
Fontes de segurança regionais e oficiais do exército sírio descreveram os ataques aéreos da manhã desta terça-feira como os mais pesados de sempre, atingindo instalações militares e bases aéreas em toda a Síria, destruindo dezenas de helicópteros e aviões, bem como meios da Guarda Republicana em Damasco e arredores.
A contagem aproximada de 200 ataques durante a noite não deixou nada dos activos do exército sírio, disseram as fontes.
O Egipto, o Qatar e a Arábia Saudita condenaram a incursão israelita. A Arábia Saudita afirmou que a acção “arruinaria as hipóteses de a Síria restaurar a segurança”.
Israel afirmou que os seus ataques aéreos iriam continuar durante dias, mas garantiu ao Conselho de Segurança da ONU que não estava a intervir no conflito sírio. O país disse que tinha tomado “medidas limitadas e temporárias” apenas para proteger a sua segurança.
Com o clima em Damasco ainda de celebração, o primeiro-ministro de Assad, Mohammed Jalili, concordou na segunda-feira em entregar o poder ao Governo de Salvação liderado pelos rebeldes, uma administração anteriormente sediada numa bolsa de território controlado pelos rebeldes no noroeste da Síria.
Transição
O comandante rebelde Ahmed al-Sharaa, conhecido pelo nome de guerra Abu Mohammad al-Jolani, encontrou-se com Jalili e com o vice-presidente Faisal Mekdad na segunda-feira para discutir o governo de transição. Jalili disse que a transferência de poder poderia levar dias para ser efectuada.
Mas a reabertura dos bancos, na terça-feira, foi um passo importante para o restabelecimento da vida normal, depois de os sírios terem sido apanhados sem dinheiro na sequência do colapso do regime no fim-de-semana.
Quatro mini-autocarros chegaram ao Banco Central da Síria, tendo os funcionários entrado no edifício para o seu primeiro dia de trabalho desde a queda de Assad.
“É um novo turno, é um novo dia, um novo ano, uma nova vida”, disse Sumayra al-Mukli.
O avanço a todo o vapor da aliança de milícias liderada pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), uma antiga filial da Al-Qaeda, foi um ponto de viragem geracional para o Médio Oriente.
A guerra civil que começou em 2011 matou centenas de milhares de pessoas, provocou uma das maiores crises de refugiados dos tempos modernos e deixou cidades bombardeadas até aos escombros, as zonas rurais despovoadas e a economia esvaziada pelas sanções mundiais.
“Este é um momento incrível para o povo sírio”, disse o vice-embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, em Nova Iorque. “Neste momento, estamos realmente concentrados em tentar ver o rumo da situação. Poderá haver uma autoridade governamental na Síria que respeite os direitos e a dignidade da população síria?”