A urgência de transformar masculinidades pelo fim da violência contra as mulheres

Iniciativa 16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência contra as Mulheres decorre até segunda-feira, dia 10.

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Estes 16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência contra as Mulheres são um momento crucial para refletirmos sobre uma das violações de direitos humanos mais persistentes e devastadoras no mundo: a violência contra mulheres e meninas. Este período, celebrado globalmente entre o dia 25 de novembro (Dia Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra as Mulheres) e o dia 10 de dezembro (Dia dos Direitos Humanos), é um apelo à ação, exigindo que governos, organizações e indivíduos enfrentem as raízes dessa violência.

Embora os debates e ações se concentrem maioritariamente nas vítimas — como é necessário e urgente —, há outro aspeto essencial para a transformação dessa realidade: a necessidade de abordar as masculinidades e o papel dos homens nesse contexto.

Violência de género e masculinidades

A violência contra as mulheres não ocorre isoladamente; ela é sustentada por normas patriarcais que perpetuam desigualdades de género e que moldam expectativas sobre como homens e mulheres devem agir. No cerne dessas normas estão construções sociais de masculinidade que frequentemente glorificam o poder, o controle e a agressividade como atributos fundamentais do que significa "ser homem".

Essas construções não incentivam apenas comportamentos violentos, mas também contribuem para o silenciamento de homens que desejam opor-se a essas práticas. A pressão para corresponder a padrões de "hipermasculinidade" muitas vezes aliena os homens das suas próprias emoções e impede-os de reconhecer e rejeitar os comportamentos que perpetuam a violência e que, em última análise, também os afetam ao promover estereótipos que os privam de ferramentas para lidar com conflitos de forma saudável.

O trabalho com homens e meninos

Integrar o trabalho com e sobre masculinidades nos esforços dos 16 Dias de Ativismo não é apenas estratégico, mas indispensável. Envolver homens e meninos na luta contra a violência machista é fundamental para desafiar as dinâmicas de poder que sustentam essas práticas. Isso envolve tanto consciencializar os homens sobre os impactos da violência quanto criar espaços para que questionem os padrões culturais que os moldam.

Programas que promovem masculinidades positivas e igualitárias têm mostrado resultados promissores em diversas partes do mundo. Iniciativas como o programa H no Brasil, Equi-X em Portugal ou a Campanha Global MenCare demonstram que é possível envolver homens como parceiros na promoção de relações saudáveis, na paternidade responsável e na redução da violência.

Trabalhar com homens não significa desviar a atenção das mulheres, mas sim fortalecer os esforços para criar uma sociedade mais justa. Quando os homens assumem a responsabilidade de mudar as suas atitudes e comportamentos contribuem para um ambiente mais seguro para mulheres, mas também para as suas próprias vidas.

Transformar a Sociedade

Os 16 Dias de Ativismo lembram-nos que o combate à violência de género é um esforço coletivo. As mulheres estão na linha de frente dessa luta há décadas, e é tempo de os homens assumirem um papel ativo, desafiando o silêncio, os privilégios e as conivências que permitem a perpetuação da violência.

A transformação das masculinidades não acontece de forma isolada; ela requer políticas públicas, educação e a mobilização de comunidades inteiras. É preciso investir em iniciativas que abordem as desigualdades de género desde a infância, incentivando as crianças – e em particular meninos – a abraçarem valores de empatia, respeito e igualdade.

Um Futuro Sem Violência

Se queremos um futuro sem violência, precisamos de um compromisso coletivo que inclua todos os géneros na solução do problema. Os 16 Dias de Ativismo não são apenas um momento de reflexão, mas também uma oportunidade para agir — nas escolas, nos lares, nos locais de trabalho e em políticas públicas.

Ao trazer os homens para o centro da conversa sobre violência de género, reconhecemos que também eles têm um papel crucial na construção de um mundo mais seguro e igualitário. Trabalhar com e sobre masculinidades é, portanto, não apenas uma necessidade, mas um caminho essencial para alcançar uma transformação social duradoura.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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