O dia (mais um) em que as direitas desprezaram as mulheres
Este ano as direitas decidiram brincar às ideologias e comemorar, com pompa, no Parlamento, o 49.º aniversário do 25 de Novembro de 1975. Da violência sobre as mulheres nada têm a dizer.
Hoje é dia 25 de novembro. Na minha agenda este dia está cativado há muitos anos com a seguinte inscrição: Marcha contra a Violência sobre as Mulheres. Desde 1981 que o movimento feminista assinala o 25 de Novembro como dia contra a violência machista. A Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres foi adotada pela ONU em 1993 e desde 2000 que este dia é por ela oficialmente designado Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Há muitos anos, portanto, que o mundo sabe que a violência machista é um problema. E como poderia ser de outra forma se, em 2023 (dados da ONU), o ciclo de violência para 51.100 mulheres terminou com o seu assassinato? Em 2023, uma mulher foi assassinada a cada dez minutos no mundo e Portugal contribuiu.
Habitualmente, este é um dia em que as reivindicações do movimento feminista, sobretudo das organizações que quotidianamente enfrentam e combatem este problema, ressoam na agenda política e nas intervenções parlamentares.
Mas cada qual tem as suas agendas e este ano as direitas parlamentares decidiram brincar às ideologias e comemorar, no Parlamento, com pompa e circunstância, o 49.º aniversário do 25 de Novembro de 1975. Há dias que não se ouve falar de outra coisa, como se os problemas do país dependessem de saber quem vence a disputa anacrónica sobre o significado do 25 de Novembro na história do país. Se pudesse arbitrar esta disputa, determinaria: o 25 de Novembro é o dia em que se constata que a nossa democracia é imperfeita e vulnerável, porque não é capaz de proteger as mulheres, que continuam a viver quotidianos de violência e a morrer às mãos de homens. E porque constatar não é suficiente, é também o dia em que o Governo reforça a democracia e, em diálogo com as organizações que combatem a violência doméstica e de género, anuncia compromissos que pretende cumprir para combater a violência machista.
Segundo o Observatório da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), este ano, entre 1 de janeiro e 15 de novembro, 25 mulheres foram assassinadas em Portugal. A todas estas mulheres cujas vidas foram roubadas juntam-se aquelas que têm quotidianos de inferno. Mas sobre isso a maioria parlamentar das direitas vai estar calada, porque escolheu invisibilizar e desprezar as mulheres e as organizações que todos os dias combatem este problema. Sobre este 25 de Novembro, as direitas não têm nada a dizer, contribuindo, assim, para naturalizar e normalizar a violência machista.
Esta tarde, nas ruas do Porto e de Lisboa, há marcha contra a violência machista. Há uma parte do país que vai lá estar. E é essa parte que não me faz perder a esperança.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico