O oxigénio da publicidade
Os media acabaram por ser co-construtores involuntários da “ação de comunicação” do Chega, um evento que teria sido um fiasco sem a mediatização de que beneficiou durante e após o incidente.
Em 1985, após o desvio de um voo da Trans World Airlines por um grupo muçulmano xiita, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher acusou os media de fornecerem aos terroristas o “oxigénio da publicidade”. Com esta afirmação, pretendia dizer que a grande visibilidade concedida ao ataque não seria exclusivamente uma consequência do atentado, mas uma componente constitutiva do próprio atentado. Ou seja, este não havia terminado com o desvio do avião, tendo continuado, de uma outra forma, através da intensa cobertura mediática. Num tempo em que a lógica comercial e competitiva dos media se estava a consolidar, os grupos terroristas teriam aprendido a rentabilizar essa lógica emergente a seu favor, tornando os meios de comunicação seus cúmplices não intencionais. Deste modo, um atentado sem uma forte amplificação, mesmo que materialmente executado, falharia na sua plenitude.
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