Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica: o “parente pobre” do SNS

A greve de outubro de 2024 foi um sinal de exaustão por parte dos TSDT que adiou ou cancelou inúmeros exames, diagnósticos e tratamentos. Mas o Ministério da Saúde não deu qualquer resposta concreta.

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Os técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica (TSDT) em Portugal continuam a ser considerados o “parente pobre” do Sistema Nacional de Saúde (SNS), apesar de desempenharem funções essenciais na prestação de cuidados de saúde. Estes profissionais, fundamentais em áreas como radiologia, análises clínicas, fisioterapia, saúde ambiental e radioterapia, são responsáveis por diagnósticos e tratamentos que impactam diretamente a saúde da população. Contudo, a sua desvalorização persiste, alimentada por promessas não cumpridas e uma crónica falta de reconhecimento por parte das autoridades. Prova disso foi a recente greve de quatro dias, de 28 a 31 de outubro de 2024, que evidenciou o descontentamento acumulado por anos de negligência, como outras que foram levadas a cabo pelos TSDT desde 2017. Ainda assim, até ao dia de hoje, o Ministério da Saúde permanece em silêncio, sem qualquer resposta nem convocatória para iniciar um protocolo negocial.

Uma carreira desvalorizada e ignorada

A situação dos TSDT não é nova, e as suas reivindicações são justas e evidentes: reconhecimento da complexidade e responsabilidade das suas funções, condições de trabalho dignas e progressão de carreira que correspondam à sua elevada formação académica e às exigências técnicas e científicas da profissão. Em 2023, existiam aproximadamente 30.000 TSDT em Portugal, a maioria dos quais com formação superior, incluindo mestrados e especializações. Apesar desse nível de qualificação, a valorização salarial que recebem está muito aquém do adequado. O paradoxo entre a alta competência técnica e a escassa valorização salarial é um reflexo da desatenção das autoridades. Mais uma vez, o Ministério da Saúde permanece em silêncio sobre esta situação, sem qualquer manifestação ou plano de diálogo que demonstre disposição para resolver esta discrepância.

A greve de outubro e o pedido de respeito

A greve de outubro de 2024 foi um sinal de exaustão por parte dos TSDT, traduzido numa paralisação que adiou ou cancelou inúmeros exames, diagnósticos e tratamentos, com consequências para os utentes do SNS. Contudo, esta ação foi a única forma de dar voz às reivindicações da classe. Mesmo perante esta demonstração de descontentamento, o Ministério da Saúde não deu qualquer resposta concreta. Apesar das declarações da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que descreveu os TSDT como “uma espécie de cimento” nas equipas de saúde e prometeu iniciar negociações, não houve um único passo concreto nesse sentido. Até ao momento, não foi agendada qualquer reunião nem houve propostas objetivas, e a promessa de negociação permanece, até hoje, sem qualquer desenvolvimento. A sensação é de que estas declarações foram apenas um recurso para acalmar os ânimos, sem um compromisso genuíno com mudanças estruturais.

Um problema estrutural e a hierarquia no SNS

O SNS continua a operar sob uma hierarquia bem definida, onde médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde têm, de forma recorrente, mais reconhecimento e valorização salarial do que os TSDT, que são tratados como profissionais de segunda linha. Este cenário ignora a formação e especialização dos TSDT, que desempenham funções essenciais ao diagnóstico e tratamento de doenças, fundamentais para a qualidade e segurança dos cuidados prestados. No entanto, até ao presente momento, não há nenhuma ação concreta por parte do Ministério para combater esta marginalização, e a ausência de um calendário negocial reforça a ideia de desconsideração.

Reconhecimento e valorização como exigência básica

A greve de outubro deve ser interpretada como um apelo urgente para a sociedade portuguesa e para o Governo. A contínua falta de reconhecimento e valorização dos TSDT coloca em risco a qualidade dos serviços de saúde prestados aos cidadãos. O SNS é um sistema complexo e interdependente, onde desvalorizar qualquer profissional compromete a eficácia e integridade do serviço. O Governo tem a responsabilidade de assegurar que todos os profissionais de saúde, sem exceção, se sintam respeitados e adequadamente recompensados pelo seu trabalho. A valorização dos TSDT passa por mais do que um aumento salarial; é uma questão de dignidade, condições adequadas de trabalho e uma carreira justa.

Conclusão: a urgência de um compromisso concreto

O Governo não pode mais responder às reivindicações dos TSDT com promessas vazias e falta de diálogo. O silêncio contínuo e a falta de uma convocatória para negociação sublinham a necessidade urgente de políticas concretas de valorização que contemplem não só melhores salários, mas também uma carreira digna para estes profissionais. Apenas com um compromisso real será possível garantir que o SNS permaneça um sistema de saúde de qualidade, acessível e eficaz para todos os cidadãos.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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