Ir à Basílica de São Pedro com inteligência artificial. Microsoft e Vaticano criam acesso virtual ao monumento

A inteligência artificial entrou num dos maiores monumentos do mundo católico. A Microsoft e o Vaticano lançaram uma réplica digital da Basílica de São Pedro e ferramentas para explorá-la à distância.

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Foi construído um modelo tridimensional da Basílica de São Pedro, visitada diariamente por 40 mil a 50 mil pessoas, através de uma digitalização do monumento Remo Casilli / REUTERS
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Quase 400 anos depois de ter sido construída, um dos maiores e mais importantes monumentos do mundo católico abre portas à tecnologia de ponta. O Vaticano lançou esta segunda-feira uma linha de serviços baseados em inteligência artificial para explorar digitalmente e à distância a Basílica de São Pedro. As novas ferramentas permitem um acesso virtual generalizado a um dos mais valorizados tesouros arquitectónicos da era renascentista, assim como passeios aprimorados para os visitantes.

"A Basílica de São Pedro é como um céu estrelado numa noite de Verão: o seu esplendor encanta-nos", disse o arcipreste de São Pedro, o cardeal Mauro Gambetti, entusiasmando-se com o facto de os novos instrumentos funcionarem como um telescópio ou uma nave espacial para uma melhor visualização do monumento — até das zonas que não podem ser visitadas presencialmente, com detalhes que podem escapar à vista de quem entra fisicamente na basílica.

Em colaboração com a empresa de tecnologia Microsoft e a Iconem, uma empresa especializada na digitalização de locais patrimoniais, o Vaticano lançou o "St. Peter’s Basilica: AI-Enhanced Experience", um projecto que inclui um novo site interactivo, uma réplica digital da basílica e duas exposições com recurso à inteligência artificial. A ideia é "desconstruir para o humano de hoje, com a ajuda da tecnologia digital, o cruzamento entre a História, a arte e a espiritualidade que tornam a Basílica única no mundo", sumarizou Mauro Gambetti.

Entre os locais que foram digitalmente construídos estão o túmulo do apóstolo São Pedro — considerado o primeiro Papa da Igreja Católica e, segundo a tradição cristã, crucificado de cabeça para baixo em Roma — ou as obras de artistas tão consagrados como Miguel Ângelo, Bernini e Rafael. Por ocasião do Jubileu, também será possível explorar duas exposições imersivas que terão palco na basílica. E, nos próximos anos, o projecto continuará para incluir detalhes aprimorados das abóbadas.

Para isso foi construído um modelo tridimensional da Basílica de São Pedro, visitada diariamente por 40 mil a 50 mil pessoas, através de uma digitalização do monumento com recurso a drones, câmaras e lasers. Os algoritmos de inteligência artificial foram depois utilizados para juntaram, elaboraram e completaram os dados recolhidos com esses instrumentos.

Os drones voaram à noite durante quatro semanas, tirando mais de 400 mil fotografias e recolhendo o equivalente a uma pilha de seis quilómetros de altura de DVDs cheios de dados. Os dados deste gémeo digital da basílica, que incluem 400 mil imagens de alta resolução, serão também essenciais nos trabalhos de preservação e restauro.

"Estamos a levar São Pedro não só ao mundo, mas a uma nova geração de pessoas, numa linguagem mais acessível para os tempos em que vivemos", disse o presidente da Microsoft, Brad Smith, aos jornalistas durante uma apresentação.

O Papa Francisco reagiu ao projecto e reconheceu que a inteligência artificial pode alargar o acesso ao conhecimento, mas avisou repetidamente que só deve ser utilizada de forma ética, em benefício da humanidade. "A utilização correcta e construtiva do potencial [da inteligência artificial], que é certamente útil mas pode ser ambivalente, depende de nós", afirmou na segunda-feira.