Web Summit abre em clima morno e com a promessa da IA em português

Luís Montenegro revela que irá lançar, no primeiro trimestre de 2025, um Modelo de Linguagem em Larga Escala em português. Um programa do tipo ChatGPT, para ajudar sector público e privado.

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Paddy Cosgrave voltou após dois anos de ausência e Luís Montenegro estreou-se no palco da Web Summit ANTONIO PEDRO SANTOS / EPA
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Esgotado, mas morno como nunca. Assim estava o ambiente da Meo Arena, palco central da Web Summit (WB) cuja edição arrancou nesta segunda-feira, ao final da tarde, de uma forma mais silenciosa do que o costume. "É muito bom estar de volta", exclamou Paddy Cosgrave, na intervenção inaugural da WB 2024, a primeira em dois anos, depois de se ter demitido em 2023 e regressado este ano. Houve palmas, mas quem veio às oito edições presenciais anteriores deve ter notado que faltava calor. "Vamos lá, vocês podem fazer melhor que isso", anotou o próprio Cosgrave.

Numa edição que não arrisca muito – o que pode ser reflexo das polémicas que rodearam a WS 2023, mas também da vontade de recentrar as conversas mais na tecnologia –, Luís Montenegro estreou-se naquele palco no papel de primeiro-ministro, anunciando uma novidade que a maioria fora daquele pavilhão terá dificuldade em compreender, sem detalhe e sem contexto.

Disse Montenegro que o Governo irá lançar, no primeiro trimestre de 2025, um LLM em português. LLM é a sigla para Large Language Model, que pode ser traduzido do inglês para Modelo de Linguagem em Larga Escala ou Modelo Amplo de Linguagem.

Quem não sabe o que é, pode pensar no ChatGPT, que é um LLM. Quem nunca usou uma ferramenta deste tipo, pode pensar numa espécie de sistema neuronal electrónico sob a forma de programa de computador, que pode reconhecer e gerar texto, por exemplo. É treinado a partir de enormes conjuntos de dados – daí ter no nome a referência a Larga Escala.

Qual a relevância deste anúncio de Montenegro na abertura da WB 2024? Estes modelos funcionam tanto melhor quanto maior a qualidade dos dados. Uma iniciativa portuguesa para criar um LLM significa, de certa forma, ser mais autónomo. Será preciso esperar que o executivo de Montenegro explique ou dê mais detalhes sobre que tem em mente, como será levado a cabo este lançamento e com o apoio técnico de quem.

Para o primeiro-ministro, a importância é "inovar em português preservando o nosso idioma e utilizando a nossa cultura ao serviço da inovação". Numa intervenção que começou e acabou num inglês algo inseguro, e foi quase toda ela feita em português, Montenegro disse saber que este "é um passo crítico".

"Sabemos também que dessa maneira vamos conseguir hoje dar respostas mais inclusivas, que não conseguíamos ter até ontem, dando a cada aluno um tutor educativo de inteligência artificial adaptados aos novos currículos, para o ajudar a entender o mundo, dando a cada cidadão acesso à administração pública, de forma mais simples, mais directa e personalizada, para responder às suas necessidades, dando a cada empresa a oportunidade de projectar os seus serviços, numa era de Inteligência Artificial também em português."

Tentando decifrar este anúncio e a sua justificação, o Governo estará a pensar em lançar um programa de Inteligência Artificial em português, que ajude na educação, na gestão pública e no apoio à economia privada. Uma espécie de ChatGPT luso, produzido em português e, quem sabe, por portugueses.

Antes de Montenegro, foi Carlos Moedas, enquanto presidente da Câmara de Lisboa, a dirigir-se à audiência. Como é seu timbre, fê-lo inteiramente em inglês, repetindo o que foi costume sempre que esteve na WS.

Aproveitou o tempo para propalar resultados: Lisboa passou a ser uma cidade capital europeia da inovação, a "casa" de 14 empresas tecnológicas avaliadas em mais de mil milhões de dólares (os famosos e inevitáveis "unicórnios"), mas também quis dar contrapontos defendendo que esta aposta só faz sentido se houver investimento e resultado em bem-estar social.

O programa "a sério" da WS começa nesta terça-feira e muitos olhos estarão virados para o ainda vice-chanceler alemão Robert Habeck, igualmente ministro da Economia e do Clima do Governo de Berlim, que era suportado por uma coligação que se desfez na semana passada.

Habeck é do partido Os Verdes, e estará em Lisboa em palco por volta das 12h, para falar durante 20 minutos sobre um futuro com progresso. Logo de seguida dará uma conferência de imprensa.

Ainda no campo político, o opositor ao regime venezuelano exilado em Espanha Leopoldo López será um dos oradores amanhã à tarde na WS. Explicará à plateia "como enfrentar autocratas" e dará depois uma conferência de imprensa.

A WS prolonga-se até quinta-feira, com muitas exibições nos pavilhões da FIL e muitas conversas em mais de 20 palcos. A organização anunciou a meio da tarde que os bilhetes tinham ficado esgotados nesta segunda-feira.

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