Principal religioso de Gaza emite fatwa contra ataque do Hamas

Decreto religioso de Salman al-Dayah causou surpresa e terá um peso significativo para os muçulmanos sunitas de Gaza, que são a maioria da população do território.

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O grau de destruição na Faixa de Gaza foi um dos motivos alegados por Salman al-Dayah, uma autoridade religiosa, para declarar que o ataque de 7 de Outubro não foi conforme os princípios que regem a jihad Hassan Al-Zaanin / REUTERS
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Num decreto de seis páginas, Salman al-Dayah, antigo reitor da Faculdade de Sharia e Direito na Universidade Islâmica de Gaza e que é considerado uma das autoridades religiosas mais respeitadas da região, criticou o ataque do Hamas levado a cabo a 7 de Outubro em Israel por “violar os princípios islâmicos que regem a jihad”.

A notícia, dada na sexta-feira pela BBC com base numa publicação de Al-Dayah no Facebook, causou surpresa, apesar de o religioso ter sido já antes crítico do Hamas ou da Jihad Islâmica. A sua opinião tem um peso significativo para a população muçulmana sunita de Gaza, que é a maioria no território.

O diário libanês L'Orient Le Jour sublinha que no decreto não é rejeitada a legitimidade da jihad, mas é sim considerado que esta não seguiu, a 7 de Outubro, as condições estritas que a regem.

“Se os pilares, causas, ou condições da jihad ["luta justa", que pode ser luta armada ou uma luta pessoal para melhoria] não estiverem concretizadas, tem de ser evitada para evitar a destruição de vidas de pessoas. Isso é algo que era fácil adivinhar pelos políticos do nosso país, por isso o ataque devia ter sido evitado”, escreveu Salman al-Dayah.

O elevado número de vítimas civis em Gaza (um relatório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos dizia que das vítimas identificadas quase 70% são mulheres e crianças) e o grau de destruição de infra-estruturas civis e a catástrofe humanitária para a população de Gaza significa que o ataque de 7 de Outubro está em contradição directa com o islão.

“Esta fatwa [decreto religioso] é uma crítica embaraçosa e potencialmente danosa para o Hamas, em especial porque o grupo justifica frequentemente os seus ataques contra Israel através de argumentos religiosos para receber apoio de comunidades árabes e muçulmanas”, escreve a BBC.

O Hamas, escreveu ainda o estudioso do islão, falhou nas suas obrigações de “manter os combatentes longe das casas de civis indefesos e dos seus abrigos, e de dar a maior segurança possível nos vários aspectos da vida… segurança, economia, saúde, educação, e ter mantimentos suficientes para eles”.

“A vida humana é mais preciosa para Deus do que Meca”, escreveu Al-Dayah que, segundo disse um discípulo à BBC, está actualmente no Norte da Faixa de Gaza, tendo-se recusado a deixar a sua casa.

O religioso é salafista, defendendo o estabelecimento de um califado muçulmano que siga estritamente a lei islâmica, e não o sistema de partidos diferentes “que dividem a nação”, considerando num sermão há alguns anos que os partidos são “proibidos” no islão.

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