INEM: “Há negligência, irresponsabilidade e incompetência do Governo”, diz Pedro Nuno

Líder do PS acusa Montenegro e ministra da Saúde de “desvalorizarem” as oito mortes e problemas da emergência médica, e rejeita culpas de anteriores Governo. Ventura pede demissão de Ana Paula Martins

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Líder do PS contorna um pedido de demissão da ministra alegando que a responsabilidade já está acima, no primeiro-ministro. Nuno Ferreira Santos
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O secretário-geral socialista acusou hoje Luís Montenegro e a ministra da Saúde de serem responsáveis pelos impactos da greve dos profissionais de emergência médica e criticou que "só após oito mortes, aparentemente motivadas por atrasos no serviço de emergência", Ana Paula Martins tenha reunido com os profissionais. Apesar dessa responsabilização, Pedro Nuno Santos não quis ser directo a pedir a demissão da ministra, alegando que o problema não é só de Ana Paula Martins, mas "do Governo todo e do primeiro-ministro em particular".

"Estamos perante uma situação muito grave de negligência, irresponsabilidade e de incompetência do Governo português", apontou Pedro Nuno Santos em conferência de imprensa. O secretário-geral do PS criticou Luís Montenegro por, em vez de classificar a situação como grave, dizer que iria averiguar o que aconteceu e "retirar as consequências" - o líder do executivo "optou por desvalorizar esta greve, dizendo mesmo que não podem andar sempre atrás de pré-avisos de greve".

"Não só não fez nada para evitar, em tempo útil, esta greve, como também não fez nada para minorar os impactos" já que "não foram feitos esforços para decretar serviços mínimos", afirmou Pedro Nuno, assinalando que "afinal, bastava uma reunião [com os técnicos] para impedir que a greve acontecesse".

E acrescentou: "E, ao contrário daquilo que tenho ouvido, os serviços mínimos também podem ser decretados às greves ao trabalho suplementar." Por isso, continuou o líder socialista, o Governo "tinha obrigação de procurar, decretar ou apresentar uma proposta de serviços mínimos para esta greve", porque o executivo "sabe e tem obrigação de saber que o trabalho suplementar é essencial para o bom funcionamento do INEM".

Pedro Nuno citou Montenegro, que alegou que o problema não se resolve apenas com a substituição da ministra, para insistir na crítica à “desvalorização” do problema e dizer que o Governo precisa alterar a forma como “gere problemas”. "Esta é uma área muito sensível para a vida colectiva dos portugueses. Exige-se muito mais de um Governo."

“Governar não é apresentar Powerpoints. É quando os governos são testados com casos concretos que se avalia a sua competência. E a verdade é que têm sido demasiados os casos que nos permitem dizer, com toda a certeza, que o Governo tem falhado naquilo que mais é essencial: a competência com que serve a população.”

Para Pedro Nuno, Ana Paula Martins “tem revelado uma grande incapacidade na gestão do dossier da saúde (…) e da emergência médica”. Como exemplo, o líder do PS lembrou o trabalho do executivo de António Costa na gestão da greve dos motoristas de pesados de mercadorias que até era um conflito laboral entre trabalhadores e empresas privadas. “Esse é o trabalho que um Governo deve fazer”, defendeu Pedro Nuno, em vez de “responsabilizar” o executivo anterior que foi “julgado nas urnas e perdeu as eleições”.

Por seu lado, o actual Governo "falha sistematicamente" há sete meses, acusou."É preciso que o primeiro-ministro tenha a consciência de que o PSD já não é oposição. O PSD governa o país e tem que prestar contas, esclarecimentos, resolver problemas. e não fugir, evitar desvalorizar ou esconder-se no Governo anterior."

O secretário-geral socialista ofereceu-se até para “fazer parte da resolução do problema de falta de recursos no INEM”, sem especificar a que se refere – por exemplo, se vai fazer propostas no âmbito do Orçamento do Estado.

Demissão? Olhem para o que disseram sobre Marta Temido

Questionado sobre se, perante esta avaliação, pede ou não a demissão de Ana Paula Martins, Pedro Nuno Santos remeteu para o primeiro-ministro a “avaliação sobre as condições dos seus ministros para continuarem em funções”, defendeu ser "claro que tem que haver consequências", mas sempre sem se comprometer com a exigência de demissão.

Relembrado sobre a comparação com o caso da antiga ministra da Saúde do PS, Marta Temido, que se demitiu na sequência da morte de uma grávida transferida de hospital por falta de vagas no serviço de neonatologia, o líder socialista disse que gostaria que alguns dirigentes do PSD deste Governo fossem ver as suas declarações nessa altura e fossem "capazes de ser coerentes".

Quem não se coibiu em pedir directamente a demissão de Ana Paula Martins foi André Ventura. O líder do Chega defendeu até que a remodelação governamental deve acontecer até à votação final do Orçamento, no fim deste mês, incluindo nessa tarefa de Montenegro também a substituição da ministra da Administração Interna - classificando ambas de "activos tóxicos".

Nas palavras de Ventura, a ministra da Saúde tornou-se um "fenómeno de instabilidade, de falta de resposta e de intransigência, numa área em que é preciso humanidade, firmeza e resposta". E disse que a sua "situação política é insustentável, porque foi avisada da situação no INEM" e nada fez para "travar a greve", criticou.

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