A vitória de Trump
Cada vez é mais profundo o fosso que separa as camadas incomunicáveis da sociedade moderna.
Trump foi eleito pelo povo! O que é hoje o povo? Uma população enorme de indivíduos, desprovidos de recursos económicos, carentes de consciência política e de classe, tomados pela subcultura das redes sociais, ou pelo fanatismo de seitas religiosas, fascinados pelos seus ídolos, “influencers” fabricados instantaneamente no Instagram, X, TikTok e afins. Nos EUA, quase metade da população é constituída por afrodescendentes, asiáticos e hispânicos (muitos vindos da Ilha do “lixo”, como foi dito num comício de Trump). Os marxistas chamavam-lhe o “lumpenproletariado”, (a tradução literal é terrível: a “escória”!). Por isso, a esquerda os abandonou, porque os considerava suscetíveis de servir os interesses da burguesia. Não sendo marxista, aceito esta definição, atualizada pela influência de vários fatores que me parecem decisivos: a influência das redes sociais; o problema da imigração; a morte das religiões tradicionais de cariz humanista; o absoluto desinteresse pela herança cultural (científica e artística) da humanidade, traduzida num “modus vivendi” cruel, vazio de beleza, bondade e solidariedade; a crise dos sistemas educativos, pelo menos, no mundo ocidental; e ainda o total descontrolo da gestão do tempo (biológico e psicológico) avassaladoramente ameaçado pelo frenesim alucinado com que corremos vertiginosamente para a destruição do eu, como entidade moral e racional.
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