O INEM e os problemas que se multiplicam

Não é a primeira vez que alguém chama a atenção da ministra para o INEM. Em Julho, o então presidente daquele instituto demitiu-se com a justificação de que perdera a confiança política no ministério.

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Os problemas multiplicam-se no INEM. Não era preciso Marcelo Rebelo de Sousa tê-lo dito, como fez nesta quinta-feira, mas poucas horas depois de o ter feito (com o pedido para que se encontrem soluções o mais depressa possível), houve consequências.

Luís Montenegro viu-se obrigado a responder ao Presidente da República e assegurou-lhe que, embora o Governo esteja a tentar resolver os problemas, isso não se faz "de um dia para o outro". Já o Ministério da Saúde anunciou uma reunião com o sindicato que decretou a greve às horas extraordinárias e conseguiu estabelecer um protocolo negocial para pôr fim à paralisação.

O processo político desenrolou-se em apenas algumas horas, mas só se precipitou depois de surgirem notícias a dar conta de três evidências: 1) tem havido constrangimentos na resposta do INEM aos pedidos de socorro; 2) sete pessoas morreram nos últimos oito dias e em todos os casos houve atrasos na assistência médica; 3) o Presidente quer soluções.

Já foram prometidas auditorias para tentar perceber se há relação entre os dois primeiros factos (pelo menos em alguns casos), e não é certo que outra resposta do INEM conservasse a vida de todos, mas a morte de sete pessoas nunca é de desvalorizar.

Não é a primeira vez que alguém chama a atenção da ministra para o INEM. Em Julho, quando o Governo tinha dois meses e um dia de vida, o então presidente daquele instituto demitiu-se com a justificação de que perdera a confiança política no actual ministério. Talvez Luís Meira estivesse apenas a tentar antecipar-se à sua própria substituição por ordem superior, mas a ocasião serviu para passar a mensagem de que a equipa de Ana Paula Martins estava a ter um comportamento negligente em relação ao INEM. “Nunca nenhuma tutela me tinha falhado como esta”, disse.

Na altura, as queixas de Luís Meira diziam respeito a um concurso para o serviço de helicópteros de assistência médica que, não se podendo repetir ou substituir por um ajuste directo sem a autorização do ministério, deixaria o país sem transporte aéreo de "doentes críticos".

Agora, e porque não há só um problema no INEM, a questão é diferente. Começou por ser um “grito de revolta dos técnicos” por melhores condições salariais e de carreira, materializou-se numa greve às horas extraordinárias, resultou em atrasos na resposta de emergência e terminou quando a ministra decidiu ouvir as reivindicações e perceber o que realmente está em causa no INEM. Bastou uma reunião. Podia ter acontecido antes.

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