Vitória de Trump é terror para Lula e o Brasil

Eleição de Donald Trump nos Estados Unidos reforça a extrema-direita brasileira, que fará de tudo para derrubar a inelegibilidade de Bolsonaro e levá-lo novamente ao Palácio do Planalto em 2026.

Ouça este artigo
00:00
03:13

Os artigos escritos pela equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

A vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos é uma derrota para a democracia, ao menos no sentido em que a conhecemos hoje, e um terror para o Brasil. Como presidente da maior economia do planeta, Trump tende a impulsionar a extrema-direita, com tudo de ruim que ela carrega, e a tensionar as relações mundiais, que estão esgarçadas com duas guerras longe de acabar — entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e os grupos Hamas e Hezbollah.

Para o Brasil, Trump significa o recrudescimento do radicalismo representado por Jair Bolsonaro, que logo tratou de “agradecer a Deus” pela vitória do republicano. O ex-presidente brasileiro acredita que, com o aliado norte-americano no poder, terá apoio suficiente para derrubar, no Congresso, a inelegibilidade de oito anos imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro acredita piamente que, assim como Trump voltará triunfal à Casa Branca, o mesmo acontecerá com ele em 2026, ao Palácio do Planalto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi dormir na terça-feira (05/11) já sem a esperança de ver as urnas nos Estados Unidos darem vitória a democrata Kamala Harris, e acordou nesta quarta-feira (06/11) com Trump eleito de forma esmagadora. O republicano conseguiu, com seu discurso radical, anti-imigração e protecionista, incutir na maioria dos eleitores norte-americanos que só ele é capaz de “salvar a América”. Trump se aproveitou da persistência inflacionária nos Estados Unidos, reflexo ainda da pandemia do novo coronavírus, e das dificuldades do atual presidente, Joe Biden, em se comunicar com a população.

No Brasil, Lula, apesar de bons números da economia, também vê a popularidade do governo patinar. O desemprego é o menor desde 2014. O número de trabalhadores com carteira assinada é o maior da história. Nunca a renda do trabalho foi tão alta. A economia cresce a um rimo de 3% ao ano e a inflação está próxima da meta, de 4%. Em quase dois anos, mais de 10 milhões de pessoas saíram da pobreza absoluta. Ainda assim, a sensação em boa parte dos brasileiros é de que tudo está ruim, que a vida piorou nos últimos anos.

Lula e os progressistas de esquerda não conseguem mais falar com as massas. Num mundo em que a comunicação é dominada pelas redes sociais, a extrema-direita está dando as cartas, com desinformação, mentiras, pois fala de forma simples, consegue passar uma mensagem que pega corações e mentes. Não foi por acaso que, nas recentes eleições municipais, a direita massacrou e conquistou um número recorde de prefeituras. Bolsonaro não teve a vitória que gostaria, mas conseguiu conquistar terreno em várias partes do Nordeste, maior reduto eleitoral de Lula.

O presidente brasileiro, diplomaticamente, dirá, ao comentar os resultados das eleições dos Estados Unidos, o segundo parceiro comercial do Brasil, que prevaleceu a vontade popular, da maioria dos eleitores. É da democracia. Mas ele sabe que a sua reeleição ficou um pouco mais distante. Se não for Bolsonaro o candidato apoiado por Trump daqui a dois anos, certamente as forças de direita estarão organizadas o suficiente para chegar ao Palácio do Planalto.

Com Trump novamente presidente dos Estados Unidos, os radicais se agigantam para destilar ódio, misoginia, racismo. Tempos sombrios estão por vir.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários