Dizer que o PS fala a linguagem do Chega é um insulto
O que está a acontecer no PS é que uma minoria muito reduzida e intemperada está a limitar todos os que não pensam como ela, usando o argumento de que cogitam e proferem como o Chega.
Ana Sá Lopes publicou nesta segunda-feira um artigo em que, partindo de um texto meu no Facebook, afirma que o Chega está a ganhar na campanha autárquica do PS.
Trata-se de um insulto ao PS e aos seus militantes que não pode passar em claro.
Na sequência da morte de um cidadão por um polícia, situação que se repudia e que deve ser devidamente sancionada, houve duas reações que se verificaram: 1) manifestações pacíficas, onde eu próprio estive, e que colocaram muito bem a questão da integração e da vida em bairros problemáticos; 2) um bando de criminosos pôs Lisboa a arder durante dias e, na sequência destes desacatos inaceitáveis, o presidente da Câmara de Loures afirmou que os tribunais devem decidir se estes devem ficar sem as casas municipais onde vivem, na sequência de possíveis condenações e na sequência de ação de despejo que a câmara, cumprindo o previsto no Código Civil, possa intentar.
Num Estado de Direito a paz social, a segurança, a ordem pública são centrais. Para isso, temos de fazer duas coisas – encontrar as “penalizações adequadas” para quem põe em causa esses valores e não esquecer os que são vítimas. Não esqueço Odair Moniz, a sua família e amigos que devem ser acompanhados e acarinhados pela nossa sociedade, mas também não posso deixar de exigir posição perante os gravíssimos distúrbios de Oeiras, Amadora e Loures onde centenas de carros foram incendiados, motoristas da Carris sequestrados e um deles queimado. A questão a ponderar é se a nossa ação/inação, na defesa das poucas dezenas que praticaram crimes, não está a fazer com que muitos milhares se sintam desprotegidos, dececionados, desiludidos com o país em que vivem, levando a que abandonem os partidos moderados e sigam nos argumentos da extrema-direita.
Os socialistas sempre foram o equilíbrio entre o humanismo e a integração, de um lado, e a segurança e a ordem pública, do outro. É isso que pacifica as sociedades. O que tem levado a que os partidos socialistas percam o apoio dos povos é o facto de deixarem de falar para as grandes massas anónimas e fixarem-se em agendas impercetíveis, por vezes ultraminoritárias, mesmo que estas não possam, nem devam, ser esquecidas.
O que está a acontecer no PS é que uma minoria muito reduzida e intemperada está a limitar todos os que não pensam como ela, usando o argumento de que cogitam e proferem como o Chega. Isso é inaceitável e não pode ser permitido, deve ser repudiado sem cessar.
O PS deve estar onde sempre esteve. Deve ser o partido que entende os países que existem dento do país, que fala com linguagem simples, para todos, que não cesse na transformação da sociedade sem arrogância.