Houve duas mortes por atrasos na linha telefónica 112, acusa sindicato

Na última segunda e quinta-feira existiram no CODU “mais de cem chamadas em simultâneo em espera para serem atendidas”.

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Faltam técnicos para atender telefones na linha de emergência médica PAULO PIMENTA
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O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar diz que duas pessoas morreram nos últimos três dias por atrasos no atendimento na linha 112, considerando que as condições continuam a agravar-se por escassez de profissionais.

O presidente do sindicato, Rui Lázaro, revela que este sábado na freguesia de Molelos, Tondela, um familiar de uma mulher de 94 anos em paragem cardíaca conseguiu ligar para a linha de emergência às 9h34, mas a chamada só foi transferida para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) às 10h19, ou seja, cerca de 45 minutos depois. A nonagenária ainda foi transportada para o centro hospitalar de Lamego, onde foi declarado o óbito.

Na passada quinta-feira, em Bragança, a mulher de um homem em paragem cardíaca esteve mais de uma hora a tentar ligar para o 112 e, quando foi atendida, explicou que o marido estava naquela situação há mais de uma hora e que, durante todo aquele tempo, ninguém atendeu, continua o dirigente sindical. Se a chamada tivesse sido atendida e activada uma viatura médica do hospital de Bragança que se encontrava àquela hora a cerca de dois minutos, "o desfecho da situação poderia ter sido outro". Neste caso, o óbito foi declarado no local.

Em comunicado, o sindicato adianta que "estes exemplos de colapso do sistema de emergência médica" se sucedem e sublinha que, "na última segunda e quinta-feira", existiram no CODU "mais de cem chamadas em simultâneo em espera para serem atendidas".

Acrescenta que, também na quinta-feira passada, um acidentado grave, por não conseguir ver a sua chamada atendida nas centrais do Instituto Nacional de Emergência Médica, "acabou na urgência transportado pela filha", não tenho havido consequências fatais.

O sindicato afirma que exemplos como estes "sucedem-se frequentemente", pois "o baixo número de técnicos de emergência pré-hospitalar para atender chamadas nas centrais de emergência, bem como o elevado número de meios encerrados por falta destes técnicos, tem aumentado". E afirma que não deixará de denunciar estas situações até que sejam adoptadas medidas concretas para "a reversão do caos" em que os serviços médicos de emergência se encontram.

Os sindicalistas acusam o Governo de não tomar medidas concretas para resolver o problema da escassez destes técnicos, que provoca atrasos no atendimento de chamadas nos CODU e o encerramento de meios de emergência.

"O procedimento concursal a decorrer para preenchimento de 200 vagas será inócuo, sem um combate efectivo à elevada taxa de abandono que assola hoje a profissão", argumenta o sindicato, acrescentando que "apresentou em tempo oportuno ao Governo as soluções estruturais e imediatas para iniciar a reversão dos constrangimentos que assolam o sistema integrado de emergência médica".

O sindicato realça que a revisão desta carreira especial, bem como a valorização do salário destes profissionais "não contribuem para o agravamento das contas públicas e não dependem do Orçamento do Estado, uma vez que o Instituto Nacional de Emergência Médica dispõe de orçamento" próprio.

Sublinha igualmente que o presidente do instituto "já informou ter cabimento orçamental para acautelar o aumento salarial" e que, nesse sentido, "estão reunidas todas as condições para esta valorização, faltando apenas a decisão política para a sua implementação".