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Trump, o Lindbergh de Putin

João Miguel Tavares tende a desvalorizar, vezes demais, a ameaça da extrema-direita. Ainda hoje [ontem] verbera a atitude dos jornalistas ditos “liberais” (Washington Post, NY Times, LA Times, etc., etc., ou seja, a maioria) por não tentarem compreender Donald Trump e os seus apoiantes e os antagonizarem sistematicamente.

Pois fazia-lhe bem ler o extraordinário livro de Philip Roth Conspiração contra a América (Plot against America). Nele, Roth ficciona que Franklin Roosevelt é derrotado nas eleições de 1941 por Charles Lindbergh, o aviador e muito popular na América, notório nazi e amigo de Hitler. Na obra, Lindbergh estabelece com Hitler um acordo, dando-lhe via aberta para esmagar a Europa. Rapidamente, também a nível interno, enceta uma perseguição da imprensa livre e dos grupos minoritários que não o apoiam – deportando, nomeadamente, os judeus da Costa Leste para estados interiores (como Kentucky e Tennessee) –, suprimindo as liberdades e governando de forma autocrática. Quem ler o livro fica chocado com as semelhanças com a situação actual nos EUA. Trump é o Lindbergh de Putin.

Recentemente, a RTP3 exibiu um documentário que mostrava – para quem achar que Philip Roth estava a inventar demais e a imaginar coisas – o movimento liderado por Lindbergh e apoiado pelo partido nazi americano (apoiado, entre outros, por Henry Ford), o Bund, chefiado por Fritz Kuhn, um alemão naturalizado americano que tinha milícias armadas e cerca de 200.000 membros. Foi esse partido que realizou o congresso no Madison Square Garden, com o qual tem sido comparado o comício de Trump na semana passada. Fica-se com a sensação de que, se não fosse o bombardeamento de Pearl Harbor, o que Roth descreve no seu livro poderia muito bem ter acontecido. Paradoxalmente, Lindbergh era também apoiado por movimentos pacifistas que não queriam o envolvimento dos EUA na guerra.

Só me vem ao pensamento o poema de Bertolt Brecht: “Primeiro levaram os negros/ mas não me importei com isso/ não era negro...”

José Eduardo Guimarães, Porto

E se os EUA implodirem?

Nos últimos quatro anos, o clima de polarização e ódio político nos Estados Unidos intensificou-se significativamente. Após as eleições de 2020, os republicanos tentaram mais de 60 acções judiciais de contestação dos resultados. Neste momento, preparam-se activamente para, mais uma vez, não reconhecerem uma possível derrota, com uma campanha de descredibilização das próximas eleições, que passou por cerca de 130 contestações judiciais dos procedimentos para votação e listas de eleitores.

Trump descreveu como "lunáticos radicais de esquerda" oponentes políticos específicos, e sugeriu que durante as eleições a situação pode justificar uma resposta militar. Nos Estados Unidos, há neste momento mais de 50 grupos armados de milícias que se opõem ao Governo federal, e promovem visões antigoverno.

A Guarda Nacional dos Estados Unidos possui uma cadeia de comando estadual e federal; em tempos de paz, a Guarda Nacional de cada estado está sob o comando do governador, mas pode ser federalizada, para garantir a segurança interna; nesse caso, o comando passa para o Presidente americano. Que sucede se o Presidente não for reconhecido como tal pelo governador de um estado?

Nesta conjuntura, que sucederá aos Estados Unidos se Kamala Harris vencer por uma curta margem? Uma guerra civil, que uma dívida pública astronómica de 35,27 triliões (milhões de milhões de dólares – 120% do PIB) vai ainda agravar mais? E à UE da Sra. Ursula, que se habituou a passear pela trela da NATO? Tal como aconteceu à União Soviética, a implosão dos EUA é uma hipótese que não deve ser desprezada.

José Cavalheiro, Matosinhos

Bezos e a neutralidade

A propósito das decisões de Jeff Bezos sobre a explicitação dos apoios dos seus jornais a candidatos presidenciais, não consigo deixar de recordar o meu antigo professor Sedas Nunes, ao dizer aos seus alunos que a neutralidade na análise e no estudo das questões sociais era objectivamente impossível e que qualquer trabalho ou estudo sério nessa área deveria ter como base a explicitação dos pressupostos ideológicos de cada autor.

Só assim se poderia alcançar a transparência e a credibilidade dos estudos sociais. De certo modo, creio que essa deverá ser a posição dos órgãos dos media, ou de quem neles colabora, afastando-se da posição artificial e cínica da neutralidade informativa. Por isso, sou leitor do PÚBLICO desde o seu primeiro número.

Luís Júdice, Lisboa

PÚBLICO Errou

Na entrevista à vereadora da Habitação de Lisboa, publicada na edição de ontem, há dois números errados. Quando se lê "2815", em referência a chaves entregues, deve ler-se "2115". Quando se fala em "17 habitações construídas, na última década", deve ler-se "17 habitações construídas na última década, por ano".

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