O aeródromo de Cascais precisa de todos
O projeto a desenvolver no aeródromo pela Universidade Nova não deverá substituir – mas sim complementar – a atual oferta das empresas privadas no que toca à formação de pilotos.
A publicação neste jornal da notícia assinada pela jornalista Teresa Serafim e intitulada "Cascais quer transformar o aeródromo de Tires num 'aeroporto universitário'" suscita algumas questões que merecem ser trazidas para o debate público, tendo em conta a importância do tema para o setor da aviação em geral e o da formação de profissionais do setor aeronáutico em particular.
Em primeiro lugar importa, elogiando o artigo pela sua clareza e informação transmitida, corrigir apenas uma afirmação constante da notícia. Com efeito, não é verdade como surgiu escrito que “as escolas de aviação ligeira já começaram a sair do local”. Tal sucedeu apenas numa situação, por decisão de gestão da empresa em causa. Em sentido contrário, aliás, através do seu vice-presidente à altura, Miguel Pinto Luz, a Câmara Municipal de Cascais (CMC) declarou já publicamente que as escolas de formação que continuam presentes no Aeródromo Municipal de Cascais aí continuariam até à entrega da gestão do aeródromo a uma entidade concessionária, à qual depois caberá a responsabilidade de gerir os contratos com as empresas estabelecidas no perímetro.
Este esclarecimento é importante para que não se subentenda da notícia que o projeto a desenvolver no aeródromo pela Universidade Nova visa substituir – e não complementar – a atual oferta das empresas privadas no que toca à formação de pilotos. Ora não faria sentido, na nossa visão, diminuir a oferta em lugar de deixar o mercado funcionar, alargando o leque no que respeita aos prestadores dos serviços de formação. Aliás, a ampliação significativa dos terrenos do aeródromo mencionada na notícia evidencia que haverá espaço para todos os intervenientes. A enorme necessidade sentida pelo mercado de pilotos e mecânicos de aeronaves só será suprida recusando opções limitadoras da oferta de formação e alargando o número de cursos e de entidades certificadas nesta tão exigente área.
Dito isto, convém ressalvar que as escolas de formação não têm sido envolvidas nas negociações entre a CMC e as entidades parceiras para o projeto que envolve o aeródromo, tomando conhecimento dos desenvolvimentos através da comunicação social, como foi mais uma vez o caso. No que diz respeito à IFA – International Flight Academy em particular, entendemos que a nossa presença em Tires há várias décadas e os valiosos contributos dados para o concelho, de ordem financeira mas não só, justificariam outro tipo de relacionamento, mais transparente, mais dialogante e mais participativo. No entanto, a CMC ainda vai bem a tempo de convidar as escolas de formação para estarem presentes nas reuniões autárquicas em que será debatido e votado este projeto agora anunciado, demonstrando assim a sua boa vontade e capacidade de diálogo. De igual modo, estamos convictos de que a CMC colocará diretamente as escolas de formação a par dos procedimentos relativos ao concurso internacional para escolha da concessionária que lançará até ao final do ano, como anunciado na mesma notícia deste jornal.
É louvável esta ligação anunciada entre a autarquia, a academia e a companhia aérea de bandeira (dado que a TAP foi também envolvida pela CMC neste projeto). Mas a grande importância do projeto e o seu impacto no futuro das empresas que tanto têm dado ao Aeródromo Municipal de Cascais e ao concelho justificam que sejam tidos em conta os direitos e expetativas daqueles que, como a IFA, sempre contribuíram para ser parte da solução para uma formação de excelência e a colocação dos alunos num mercado que necessita de todos, todos, todos, para colmatar a lacuna entre a oferta e a procura no mercado de trabalho da aviação.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico