Ataques de Israel no Líbano obrigam FIMP a cancelar espectáculo de abertura

Companhia libanesa Collectif Kahraba, que deveria trazer ao Porto Géologie d’une Fable, está “impossibilitada de se deslocar de forma segura”. Festival começa esta sexta-feira.

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Organização do festival deseja conseguir apresentar Généalogie d'une Fable "num futuro o mais próximo possível" Rima Maroun
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O Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP) anunciou esta quarta-feira o cancelamento do espectáculo Géologie d’une Fable, da companhia libanesa Collectif Kahraba, que deveria abrir a edição deste ano — a decorrer de 11 a 20 de Outubro. “Devido aos bombardeamentos e à invasão do Líbano pelas forças armadas de Israel, a companhia está impossibilitada de se deslocar de forma segura. Acresce que, para alguns elementos da equipa, separarem-se das suas famílias neste contexto não é uma opção aceitável”, explica Igor Gandra, director artístico do FIMP, num email enviado aos subscritores da newsletter do festival.

“Estivemos constantemente em contacto com os artistas e até muito recentemente trabalhámos em conjunto na direcção da realização do espectáculo, [mas] entretanto a situação deteriorou-se muito”, detalha a mensagem, que também pode ser lida no site do FIMP. Igor Gandra acrescenta que, tendo em conta que o festival está em vias de arrancar, não é possível, “nos planos logístico e de comunicação, operacionalizar a substituição [de Géologie d’une Fable] por outro espectáculo”. E pergunta ainda: “Que sentido faria fazê-lo? Quem se disporia a ocupar um palco subitamente deixado vazio pela guerra? Faria sentido convidar a vir assistir a esse gesto?”

“As razões deste cancelamento relembram-nos a todos de que, mesmo a uma certa distância, podemos facilmente transformar-nos em danos colaterais”, reflecte o director do FIMP. “Hoje, a guerra roubou-nos um bem cultural; amanhã, o que poderemos perder?”, continua, manifestando a sua “solidariedade com os artistas e povos flagelados pela guerra”. O festival manifesta, no entanto, a intenção de não desistir de apresentar esta peça num futuro próximo. Por todas as razões, oxalá consigamos.”

Criado e interpretado por Aurélien Zouki e Éric Deniaud, o espectáculo Géologie d’une Fable deveria apresentar-se sexta-feira e sábado no Teatro Carlos Alberto, um dos vários palcos que o FIMP ocupará. A peça “propõe-nos, de uma forma muito acessível — mas simultaneamente bela —, repensarmos questões ancestrais que têm que ver com a nossa ligação à terra e aos animais, e à nossa história comum, através de uma matéria tão primordial como o barro”, reflectia há tempos Igor Gandra num comunicado de imprensa.

Na nota emitida esta quarta-feira, o director artístico frisa que, “não obstante este duro choque com a realidade”, o festival continua empenhado “em fazer do FIMP 2024 um belo e desafiante encontro”.

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