EUA manifestam interesse em apoiar exploração de lítio em Portugal

Objectivo é encontrar investidores, clientes e fornecedores para desenvolver a indústria de minerais críticos noutros países com grandes reservas, como Portugal, para contrariar domínio chinês.

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Jose W. Fernandez, vice-secretário para o Crescimento Económico, Energia e Ambiente dos EUA, durante a sua passagem por Lisboa DR
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A Administração norte-americana está interessada em encontrar parceiros, clientes e financiamento para todos os projectos de exploração de lítio em Portugal. O interesse foi manifestado em Lisboa pelo vice-secretário para o Crescimento Económico, Energia e Ambiente dos EUA, Jose W. Fernandez, enviado por Washington a Portugal e Espanha para uma série de encontros de trabalho com representantes dos governos dos dois países e de empresas do sector privado.

O interesse norte-americano está directamente ligado ao braço-de-ferro comercial dos EUA com a China, que domina o fornecimento do lítio à escala global. É um motivo de preocupação em Washington, admitiu Fernandez, num encontro com jornalistas, realizado na embaixada dos EUA, em Lisboa, ontem, depois de se ter encontrado com os ministros da Economia, Pedro Reis, e da Presidência, António Leitão Amaro.

“A China é o nosso terceiro maior parceiro comercial”, enfatizou o representante norte-americano, “mas as regras que pratica não são as mesmas”. A estratégia comercial não é cortar os laços com a China ["decoupling"] mas sim diversificar as cadeias de abastecimento, para reduzir a exposição ao risco [“de-risking”], explicou.

A série de reuniões de trabalho em Portugal incluiu encontros com empresas como a Bondalti Lithium, a Savannah Resources, a Start Campus, a Altice, a Google, a Equinix e a Ericsson, entre outras, segundo revelaria na manhã seguinte a embaixada dos EUA em Portugal.

As duas primeiras confirmaram ao PÚBLICO a realização dessa reunião, mas não adiantaram detalhes sobre o que lhes foi proposto em concreto pelo enviado de Washington. Questionado sobre o tema, Fernandez também não foi ao fundo da questão. Ainda assim, a Savannah, que pretende iniciar a exploração de lítio na mina do Barroso, em Boticas, em 2027, adiantou que o encontro "vem no seguimento de outras reuniões" que a empresa manteve "nos últimos meses com representantes de outros países", que demonstram a "importância que o projecto Lítio do Barroso representa para a indústria global do lítio" e para o desenvolvimento desta "fileira industrial em Portugal".

“Vamos manter contacto [com estas empresas]. Ao abrigo da Parceria para a Segurança dos Minerais, criámos há duas semanas, durante uma reunião em Nova Iorque, um consórcio com agências nacionais de apoio à exportação via seguros de crédito, e instituições bancárias de desenvolvimento. Temos também uma rede de investidores em capital privado e empresas que procuram oportunidades de investimento. Penso, por essa razão, que aquilo que estamos a sugerir é que estas empresas [portuguesas ou em Portugal] tirem partido desta rede, que falem connosco. Nunca poderemos garantir financiamento, porque não dizemos a esses parceiros onde investir, mas podemos ajudar a construir parcerias e promover encontros, para que essas partes interessadas possam explorar oportunidades”, adiantou o vice-secretário norte-americano.

Tudo isto com um fim: combater o domínio chinês no médio e longo prazo no campo dos minerais críticos como o lítio. “Na situação actual, a capacidade de produção actual da China suplanta muito as necessidades mundiais. Isso faz com que os preços tenham caído 75% num ano. Isso desencoraja potenciais investidores. Pode prejudicar as empresas a operar em Portugal. Precisamente neste cenário, torna-se mais difícil diversificar as cadeias de abastecimento à escala global, prejudicando países que querem desenvolver estas indústrias, mas não encontram investidores, quando o preço cai dessa forma num só ano”, destacou o mesmo responsável.

A Parceria para a Segurança dos Minerais é uma entidade que agrega os EUA e 14 outros parceiros, incluindo a União Europeia. É uma espécie de aliança transnacional, dedicada ao tema dos minerais, que inclui países como Índia e Austrália. Estas economias no seu conjunto representam 55% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Com Ana Brito

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